16.11.09

Breve divagação sobre crianças, sinceridade e códigos morais

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Não gosto de criança falsa, artificial ou precoce. Tipo aquela Maísa lá do Sílvio Santos, Bom Dia & Cia, sei lá o que mais, que acha que é gente grande. A menina fala como a Eliana, se mexe como a Eliana, apresenta o programa que a Eliana costumava apresentar, é falsa como a Eliana e chama a mãe do Sílvio Santos de vaca como se soubesse do que tá falando. Ela tem 6 anos de idade, sabe. Depois, vai lá no programa dele, fica chorando (porque ele é o Sílvio Santos, que se alimenta da desgraça alheia) e todo o mundo acha bizarro, como se a menina não chorasse nunca na vida. Aos 6 anos eu chorava por tudo, era só falar grosso comigo ou segurar forte no meu braço.
Pra mim, a graça de uma criança é que, quando ela ainda não se corrompeu querendo ser seu ídolo em tempo integral ou achando que é gente grande, ela é sincera. Sincera porque não tem noção de todos os códigos sociais e morais que existem e que impedem as pessoas de serem sinceras umas com as outras. Me achavam uma criança fresca porque quando me perguntavam se eu gostava da comida que me ofereciam (e em geral perguntavam pra, tipo, lasanha de repolho), eu respondia um 'não' sem pudor. Quem pergunta o que quer, ouve o que não quer. Não é mesmo? Mais errado ainda era perguntar: "Esse macarrão tá igual ao da Tia?" (Tia é a empregada que trabalha aqui em casa desde a idade a pedra. Pra mim, só existia a comida da Tia. O resto era bosta.) "Não". A comida da Tia é a comida da Tia, caraio. Se você não chama Tia, não aprendeu a cozinhar com a Tia nem teve a ajuda dela, sua comida não vai ser igual à dela. ué. E qual é o problema de responder que não? É falta de educação? É deselegante?
Amada por todos ou não, eu era uma criança sincera. E continuo sendo uma pessoa relativamente sincera, mas não tanto uma criança que ainda não discerne "resposta verdadeira" de "resposta conveniente e que deve ser dada". Hoje é assim: "tá meio salgada essa carne mas esse feijão, hmmn... tá uma delícia, viu."