28.3.09

Eu...

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Ia publicar aqui o e-mail que mandei pro meu pai dizendo tudo o que o tempo me permite dizer, mas não vem ao caso.
E chega pensar que sou vagabunda por ter 19 anos, jogar futebol e não trabalhar. Eu só quero a paz de poder fazer as minhas coisas sem me sentir culpada por não fazer outras. É assim, tenho 19 anos e tô começando a descobrir o que quero fazer da vida. Não vou trabalhar de lojista só porque dá dinheiro e é uma ocupação. Comércio é o ramo mais ingrato com o qual se pode trabalhar, você vê com olhos crus uma locadora fechando o caixa com seis mil reais enquanto o seu salário é de seiscentos em trinta dias. É uma loja, não uma cooperativa, e tem um patrão escroto que não fala nem oi ganhando nas costas dos funcionários. Aí exploração dói mais.

23.3.09

Relatos de um babaca II

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Uma mão tocou o ombro direito, um rosto apareceu pelo esquerdo cumprimentando olá e um olhar oblíquo se afastando. E o Claudionor se acabando em cima do balcão. Não seriam necessários mais do que um sorriso e uma troca de olhares para que me acompanhasse até ela.

Um não-sorriso. Seguido de um olhar longo e verde. Barméin, marca mais um.

O outro lado do bar era mais claro, um bom pretexto pra apertar os olhos e chegar de cara feia já falando qualquer coisa. Nesses locais de teto baixo e onde a luz forte vem de cima a franja é um bom abrigo. Já os desprovidos de, esprimem os olhos e deixam a testa brilhar. Testa brilhante é brocha. Abaixei a cabeça e vesti a minha personagem também, olhando de canto quando melhor me convinha.
Claudionor ardia-me os lábios, e as ondas de calor, cada vez mais percepíveis, subiam até a orelha. Sentia o suor fazer cócegas nas costelas. O pouco diálogo presente era curto e vago, pra não comprometer a ebridez. E a mim.
Esses pubs ingleses made in Brazil deveriam funcionar só em dias frios... Mas eu bem sabia que meu calor nada tinha a ver com o pub - ou com o Claudionor.

22.3.09

Sobre o nome

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Prometo que é o último blog que eu crio. Para aqueles que estão cansados de me ver mudando de endereço: prometo ser o último. Para aqueles que não fazem a menor idéia do que eu estou falando, só me lembrem de não criar outro blog. Não nesse ano. Me lembrem de postar pelo menos uma vez por semana. Ou de que eu tenho um blog.
Ouviram, fiéis inexistentes leitores? Prometo ser o último blog que eu crio. Mas vocês sabem (ou, se não sabiam, saibam agora): promessa virtual é politicagem. (Fill in the blanks.)

20.3.09

Cabufpt

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Assim, sem aviso prévio.

Bom dia, já é segunda-feira (vagueando e apagando a lousa) e eu espero que vocês tenham tido um 'celente fim de semana, com prazeres carnais, intelectuais e gastronômicos. Se você não teve, se fudeu, vai ter que esperar o próximo. E se eu lembrasse onde a gente parou a última aula eu falava. Deixa eu adivinhar... Eu falei do Machado de Sassis na última aula? Não? Então já sei onde eu parei.

Acerca de cinquenta por cento do meu acervo piadístico humorístico babaquístico foi absorvido via osmose durante os cinquenta minutos matinais que me faziam levantar da cama pra mais um dia de muitas aulas durante o ano passado, e setenta e cinco por cento da minha musculação abdominal anual aconteceu involuntariamente nesses minutos.
Só porque eu queria lembrar de todas tiradas agora não lembro de nenhuma. Mais pra baixo do que cu de cachorro sentado.
... E foi lá um ataque cardíaco e bum. Não vou conseguir lembrar sozinha. Voltaí e me conta de novo, vai.

18.3.09

Casa Verde

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Eu sou aquela que não sabe se quer ou se não quer, se lê ou se escreve, se é a academia de letras ou de esportes. Eu sou aquela que não sabe se sublima ou se subestima. Que não é fã nem dã nem pan porque é sã. Pan de paulistano, pã. Que não sabe se prefere van ou tam. Que distorce, mas depois torce e se contorce. Eu quero mais do que não quero. Na verdade eu não me importo em querer porque quero bem. Eu quero querer mesmo já querendo e quero que queiram. Mas eu queria saber o que quero. Eu tenho ânsia. De ônibus e de tempo. De momento. Eu sou aquela que não sabe se mostra ou se esconde. (O próprio texto.) Que não sabe se dorme ou se acorda, se pára ou se ainda escreve.
Eu sou o que sou. Dentro da minha indecisão. Ou fora.

Relatos de um babaca

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As coisas já se embaralhavam quando ela sentou à minha mesa. Logo em seguida, Paulo se foi. Ou essa foi minha impressão. Depois da quinta cachaça fica mais difícil distinguir o tempo real do relativo. Quinta, sexta. Claudionor torna a contagem ainda mais difícil. Tanto faz. Enquanto isso, Maria falava da vida, pulando alguns detalhes e se detendo em outros, de acordo com o movimento dos meus olhos e minha inquietude na cadeira. As pessoas passavam ao fundo falando coisas mais interessantes do que o novo namorado dela. A menina de roxo situava a outra com palavras surpreendentemente rápidas sobre o rapaz que cruzava o bar e agora passava por elas pra pegar outra cerveja enquanto a amiga comentava que estava frio e ela de repente sentia vontade de outra cerveja. Impressionante a necessidade que as mulheres sentem de falar sobre suas trepadas em frente aos ex-namorados pra ver se eles sentem ciúmes. Garçom bom é aquele que vê que a gente tá entediado e traz mais bebida. A saideira. Dei um gole, ela virou o resto e aceitou minha carona.
Maria era uma mesa. Um cão. Uma vaca. Ou qualquer outra coisa sustentada por quatro pernas. Ou uma galinha, agora num sentido mais pejorativo e menos estético. Maria era o que eu quisesse, e teria o nome que eu desse. Menos Paula, Adriana, Luíza, Carla, etc. Era uma mesa de sinuca, esperando a próxima tacada pra poder mexer nas bolas num só estouro. E assim ela fez, apagando-me em seguida com rádio-relógio da cabeceira pra depois terminar a vingança com o batom. O rádio-relógio teve conserto. Eu, nunca.