26.12.10

Sobre a virada

|
Passei a última semana escrevendo um post na minha cabeça sobre como eu estava torcendo pro meus amigos terem um Reveillón chato e paulistano como o meu, e como eu estava fazendo o possível para que isso acontecesse, pra eu não passar a virada na frente da tv, vendo o show do Roberto Carlos, sozinha. Mas a graça - se é que tinha alguma - em dizer isso já passou, porque deu certo mesmo: tudo deu errado pra eles e nós todos viraremos na casa de uma amiga; e também porque ontem eu descobri que Roberto Carlos é no Natal.
Isso tudo é pra dizer que sem-vergonhice é coisa pouca, e ficar escrevendo as coisas na nossa cabeça não tá com nada se a gente não passa pro papel (ou computador). E que, sim, se eu não vou virar na praia, - e isso é culpa da Fuvest, ou da concorrência, - não é todo o mundo que tem o direito de ir. [Insira aqui um sorrisinho maldoso.]

5.11.10

Cavalo selvagem

|
Já não lembro mais qual foi a primeira vez que algum membro do meu corpo foi imobilizado, mas sei que demorou pra me acostumar. Já não me lembro mais da primeira vez que usei calça jeans, mas sei que tive que vontade de tirá-la desde o primeiro instante. Não me lembro mais da primeira vez que usei uma blusa curta ao invés de uma camiseta, mas sei que me pareceu justa demais. Nem da primeira vez que usei um shorts ao invés de bermuda, mas sei que me pareceu justo demais.
Poderia contar nos dedos de uma minha mão só a quantidade de vezes que calcei uma sandália de mocinha ao invés de tênis, chuteira ou havaiana. Sei que o número de acessórios anexado a mim nunca será superior ao número de dedos da minha mão (que tem cinco.) E poderia contar nos dedos de uma mão amputada a quantidade de vezes que me vesti conforme manda o manual de bons modos para moças da elite em grandes festas.

E isso tudo me remete à imagem de um cavalo selvagem. Meu incômodo, irritação e vontade de arrancar tudo. O cavalo selado que quer se livrar da sela a qualquer custo. E foi assim com o gesso que colocaram no meu braço semana passada para evitar que meu dedão lesionado se mexesse.

Mas é só uma questão de tempo até que o cavalo selvagem seja domado. O gesso foi só por três dias, mas a imagem do cavalo se repetiu por longas 72 horas. Hoje eu uso calça jeans volutariamente.

4.10.10

Sobre a aceitação:

|
Hoje eu acordei negando.

(E vou continuar negando até o fim do dia.)

3.10.10

Sobre as pessoas

|
Gosto de você. E de você, e de você também. Às vezes, sinto sua falta. (E sua, e sua também.) Gosto da nossa relação. Gosto do que a gente tem e do que a gente não tem. Não gasta neurônio. Existe e ponto. Não é? Sem jogos, mimimis e blablablás. É uma boa liberdade. Não gosto de jogos.

Mas, de manhã, quando eu chego em casa e vejo meu quarto arrumado, e durmo - sozinha, e acordo - sozinha, e levanto - sozinha, e cozinho - sozinha, pra comer - sozinha, eu vejo que estou, no fim das contas, sozinha.

21.9.10

Ainda sobre as manhãs

|
Todos os dias deveriam começar depois das dez (da manhã). Ainda é manhã, mas não é tão ruim quanto o que se entende por - manhã.
Tem dias em que eu me desperto sozinha às oito - da manhã - e tento dormir de novo porque sei que meu dia não será tão bom quanto se eu não tivesse acordado - de manhã.
Às vezes tenho vontade de desistir de tudo, e em geral isso me ocorre só porque comecei a pensar na vida - de manhã.
Sempre penso em revolucionar o mundo - pela manhã: mudo horários de estudo, de trabalho, crio dias de trinta horas, viro mendiga, mas não quero saber de existir - pela manhã. (Isso tudo naqueles cinco minutos da batalha que é botar o pé pra fora da cama.)
Algum dia vou mandar o prédio da Letras abaixo - e será numa manhã. Algum dia desses matarei algum civil inocente - só porque estaremos numa manhã.
Hitler seguramente tinha suas ideias pela manhã. Tenho certeza de que os banqueiros também têm suas ideias pela manhã. E os políticos, e os xiitas, e a Opus Dei, e toda essa gente com ideias tortas.

Mas sabe o quê? Dentro de toda essa revolução e amargura, eu darei imunidade à figura dos padeiros. Porque só comida é capaz de me fazer feliz pela manhã.

Sobre as manhãs:

|
Elas não deveriam existir.

(Chamo de manhã aquele espaço de tempo em que se abre a janela e não se sabe dizer sequer se o dia será chuva, sol, granizo ou sertão.)

18.9.10

|
Paixão. Confusão. Autosabotagem. Ilusão. E eu me apego ao não.

Queria que você chegasse em mim com um belo dum sim. (Mas eu não te perguntei, então nem sei o que tô esperando.)

13.9.10

Visões

|
A mochila às minhas costas me enfornava e o suor colava a camiseta à minha pele quando decidi me sentar à beira do córrego. Não havia vivalma naquele lugar além da minha. No meio da tarde, há um momento em que as panelas param de chiar, as agulhas param de tecer, os pratos param de bater e os motores param de rodar - e começa a siesta. Aquele que tiver alguma pendência a resolver, que espere, porque é siesta, e não há nada que se possa fazer quanto a isso. Pueblitos.
Eu, que não tinha nada que ver com aquilo tudo, continuei minha vida também parada à beira do córrego e me pus a olhar as nuvens pelo reflexo da água. O único som que se ouvia era o dela batendo nas pedras e o do vento agitando as folhas. A superfície eventualmente refletia o sol para dentro do meu olho. Tive a impressão de que as nuvens andavam rápido. Tive a impressão de que iam se chocar umas contra as outras, e de que as árvores seriam desfolhadas numa só ventania. Uma folha caiu roçando meu braço. Me assustei. Olhei pra água de volta e tive a impressão de ver um vulto se aproximando pela minha direita no reflexo. Ao meu redor não acontecia nada. Pisquei. Abri os olhos e tive agora a impressão de que outro vulto vinha pelo mesmo lado, e ele se vestia como você. Pisquei outra vez, não vi nada. Me afastei para um lugar menos úmido, estiquei minha toalha barata no chão e me deitei. Dormi com o sol nos olhos e acordei com tudo azulado. Meu braço sem protetor solar ardia. Sentei-me. Continuei a ver vultos ocasionalmente no canto do olho direito, todos vestidos como você. Decidi voltar. Olhava duas, três vezes à direita antes de atravessar a rua deserta na certeza de que alguma pessoa, moto, algum carro, ônibus ou quizás até um trem vinham daquela direção.
O caminho pra pousada nunca foi tão longo. Entrei no quarto e te encontrei de pé em frente à janela. Passei lentamente por você, que me acompanhava, estática, com os olhos. Sentei-me de pernas abertas na cadeira à sua frente. No canto do olho esquerdo seu braço se ergueu e na minha nuca suas mãos pararam. Encostei nariz e lábios na altura do seu umbigo e me pus em pé. Ao canto do meu olho direito ainda existia um universo paralelo. Podia jurar ter visto de esguelha sua boca sorrir pra mim. Vi também sua camiseta indo embora, seguida pelo seu sutiã, cinto, calça, calcinha, mas, quando pus a mão na sua cintura, meus dedos tocaram o algodão da sua camiseta.

Contei isso pra minha psiquiatra. Disse que meus olhos me enganavam, que viam coisas que não existiam. Ela me mandou usar óculos, disse que minha imaginação preenche o vazio que os olhos não alcançam.

5.8.10

Moleskine

|
Nove anos. Você passou um terço da sua vida ao lado de alguém que nao sabe até hoje se gosta ou nao. É normal confundir amizade com amor, mas nove anos é um senhor tempo. E agora, que você esta formada, você se vai. E agora você tem tempo livre. Tempo livre da faculdade. Tempo livre das suas obrigaçoes. Aliás, só o que você tem é tempo livre (e nada mais.) E você nao sabe nem por onde começar a gastá-lo, entao você dorme o dia inteiro. E passa a noite acordada, porque nao sabe dormir sozinha. Passa abraçada com seu Moleskine, seu companheiro de aventuras, descarregando suas memórias. Sai de vez em quando, conhece alguem novo, se interessa, se envolve um pouco. Nao muito, nao quer se relacionar. Quer lembrar como é estar sozinha, mas voce sente falta de uma companhia. Você sente um vazio, um buraco inexplicavelmente infinito dentro de você. Nao dá pra encher com cerveja, com pó nem com comida. (E dizem que depois você se acostuma.)

E eu entendo, N. Entendo muito bem. Faz dias que nao como direito, que nao durmo, que nao saio de casa. Meus amigos vêm me visitar e eu finjo que nao estou. Tá tudo fechado mesmo. Sento na frente da tv, o controle me acompanha dum lado e o Pixote do outro, esfregando o fucinho na minha cara. Me custa escrever, me falta vontade. O faço por obrigaçao, nao por ofício. Às vezes desabo no sofá enquanto algum filme de açao me aborrece e acordo suado, perturbado, quase enforcado pelas cobertas no meu pescoço e com travesseiro jogado no chao. (O Pixote fica longe.) Passo o resto do dia num universo paralelo, tentando, sem sucesso, relembrar meus sonhos. A primeira coisa que me ocorre é dor, muita dor. Mas sempre acordo inteiro, fisicamente. Sem nenhum arranhao do Pixote, sem dentada, sem nada. Minha mente mente me devasta. E o pior, essas dores nao se curam nem com Merthiolate nem com Prozac. Já nao sei mais o que fazer.

Eu era seu Moleskine, N.

13.6.10

Tempo

|
Às 10h30, Flávia se levantou. Quando acordou, pensou ser um dia como outro qualquer. Mas não seria. Após dormir putíssima no quarto de empregada porque todas as camas da casa, inclusive a sua, estavam ocupadas por pessoas embriagadas, foi acordada por essas mesmas pessoas, que não mais estavam embriagadas às 10h daquele sábado.
Ligou a televisão, o jogo da Argentina ainda não havia começado - era só às 11h. Aproveitou pra lavar o rosto e comer qualquer preenche-estômago. Pegou no quarto o cobertor laranja e se jogou no sofá. 1x1. Pensou em fazer seu próprio almoço. Tomou banho, um longo banho. Aproveitou a água quente do banho pra encher uma bacia, onde posteriormente mergulharia as mãos e passaria alicate nas cutículas enquanto assistia tv. Vida banal. Já sentia fome demais pra pensar em cozinhar qualquer coisa. Esquentou um pedaço da lasanha velha da geladeira. Nervos à flor da pele, deu um chilique. Não aguentava mais a falta de objetivo na vida.
Pegou a bicicleta na garagem e desceu oito quadras pra assistir o primeiro tempo de Inglaterra x EUA com elas. Foram comer feijoada no restaurante; Flávia foi pra assistir o segundo tempo. 1x1. Muito frio no Brasil.
Voltou pra casa, pegou a mãe no contrapé. Vem aqui, deixa eu te mostrar. Comprou passagens internacionais de ida e volta. Um mês e cinco dias fora deveriam lhe servir pra botar rumo na vida. Ou pra tirar de vez, mas essa não era a ideia. Fez reservas e escreveu emails de consulta. Se animou.
Foi pro boteco onde estavam elas. Comeu. Quase não bebeu. Conversou, se animou. Contestou. Foi contestada. Fez piada. Riu de piada. Anseou pela viagem. Planejou. Não hesitou. Recebeu uma mensagem no celular. Se chocou. Não soube o que fazer. Nunca sabia o que fazer. Na verdade, não havia nada que pudesse fazer.
Não dormiu. Quis chorar. Quis chamar, não podia. Era alheia à história. Alheia, não indiferente. Mas não deveria ser ela a pessoa a contar. Imaginou muitas coisas. Cogitou outras mil. Não quis. Se preocupou. Quis poder ajudar. Quis poder. Quis.
Quis, mas não era ninguém. Não era nada pra ninguém, nem tinha a pretensão de sê-lo: os is estavam todos pingados, e nenhum respingava nela. Mas se preocupou, como se preocuparia com qualquer outra pessoa querida.

Você não gosta de dar trabalho. Dar trabalho, eventualmente, é inevitável. Não é meu o ombro que você vai escolher pra chorar, mas eu certamente espero que você escolha algum. Só me prometa chorar. Porque as lágrimas, elas nunca são desejadas, mas quase sempre são necessárias. Você me ensinou isso no dia em que eu me senti patética por desabar na sua frente.

Flávia acordou pensando ser só mais um dia do mês. Mas não foi. Nem pra ela, nem pra ninguém.

9.6.10

Atroz

|
Ontem à noite, eu passei pelo parque e te vi comendo um punhado de florezinhas. Não, não comendo. Cheirando. Você estava de shorts e moletom de capuz, devia estar marcando uns 15 graus. Você é tão fodona, tão durona, que eu jamais pensaria que você cheira flores. Que dirá rosas. Rosas têm um cheiro denso e enjoado de nada. Só as rosas rosa, algumas delas, têm aquele cheiro doce que todo o mundo acha que têm as rosas. Você até parecia dócil segurando aquelas flores. Tinha acabado de chover e tudo cheirava a lama, no final das contas. Até as rosas. Seus tênis de caninho estavam enlamaçados, e até sua meia branca estava respingada de barro. Você tremia, esfregando uma à outra essas duas toras que você chama de pernas. Pernas de bicicleta. Eu julgaria ser um menino, se não fosse você a única pessoa na cidade a usar esse moletom laranja, portanto só podia ser você. Até aí, você sempre parece um menino pra quem vê com olhos distantes. Mas eu sei que por dentro você é uma mocinha, frágil e delicada. Tão frágil, tão quebrável, tão de vidro. Você queria ser blindada, mas não é, então anda sempre de guarda alta pra parecer forte. Mas isso é só mais uma fraqueza sua.
Andei devagar em sua direção. Meus pés faziam splash splosh na grama que já não era mais verde. À contra-luz, não pude ver seu rosto, só vi que você tremeu na base. Ameaçou ir embora. Que medo o meu de ter pensando esse monte de coisa, de achar que te conheço, e aí você não ser você. Como eu ia fazer pra explicar pro meu cérebro que você não era você? Ainda bem que era. Você é inconfundível. Te abracei. Você continuou imóvel. Inerte. Segurando as flores. Forte. Até um espinho te sangrar. Você largou as rosas e parou de tremer. Suas mãos estavam cheias de espinhos. Tudo sangrava. Vem, vamos embora, eu disse. Senti aflição. Você veio. Aliviada.

8.6.10

Lugar comum

|
Não é porque eu choro que eu estou triste, não é porque eu sorrio que eu estou feliz, não é porque eu corro que eu sou saudável, não é porque eu não como que eu sou magra. Nem tudo o que parece, é.

Não é porque eu não escrevo que eu não tenho ideias, nem é por falta de ideias que eu não escrevo. Queria querer um monte de coisas, queria não querer outro monte. Não sei se vou ou se fico, mas sei que se ficar agora eu não irei jamais. Não sei se trabalho pra passar o tempo, ou se deixo de trabalhar pra ver o tempo passar. Tem dias em que tudo faz sentido, mas outros em que eu não me encaixo em lugar nenhum. Qual o ponto em trabalhar, quando o que me falta pra viver não é o dinheiro, e sim a vontade? Nem é toda a hora que me falta vontade, mas quando falta, falta pela vida inteira. Então, quando eu tenho, eu me jogo. Como se não houvesse amanhã.

Tem dias em que eu me vejo sozinha com a consciência, e, nesses dias, eu penso que a vida é curta demais pra ser disperdiçada estudando como se eu fosse viver pra sempre. Mas é longa demais pra ser gasta com planos de quem vai morrer amanhã. Eu não quero ter filhos, não tenho um plano de vida longa e próspera, não sei o que é isso. Eu vou morrer algum dia. Bem como você, você e você. E é só nisso que eu consigo pensar ultimamente.

Tem dias em que eu não entendo a sociedade. Todos os outros, ela que não me entende.

7.6.10

Ritual

|
Srak wrock wreck, shok shok shok shéw. Kra kra kra -shk.

Rrrrrrrrró ---- ph-u.


... E foi dormir.



4.6.10

Incidente

|
Enquanto a loira falsa e feia passava rebolando com sua bandeja e sua bunda 44, procurando um lugar pra sentar, os dois adolescentes que cruzavam a praça de alimentação pararam de andar pra acompanhar sua bunda, fazendo com que as duas mulheres de trás tropeçassem neles, e era uma vez quatro bandejas de almoço. Mas que caralho, pensou o magro. Por que vocês pararam, quis saber a mais prejudicada, cujo sapato agora tinha um ramo de brócolis no lugar do lacinho, furiosa porque tinha planejado encontrar o namorado usando aquele sapato, que combinava com sua calça nova. Ambos se engasgaram, e, na falta de uma explicação plausível, deram de ombros. Pediram desculpas e logo saíram se lamentando, mais pelo lanche perdido, menos pelo estrago, e com uns restos de yakissoba escorrendo pela batata da perna. A faxineira do shopping, que viu toda a cena de perto e já não aguentava mais catar a porquice dos outros aqui e ali, teve vontade de esticar a vassoura com um pouquinho mais de ênfase e passar-lhes acidentalmente uma rasteira, mas, como ainda não tinha terminado de pagar a dúzia de prestações do sofá novo, não podia se dar o luxo de ser mandada embora. Especialmente agora.
Assim sendo, cada qual foi pro seu canto, resmungando - eles de fome, elas de vaidade, ela de rancor-, e a loira, que a essa altura já havia se sentado e começado a comer, continuou lá, feia, falsa e bunduda, sem saber de nada.

2.6.10

Amélia

|
Subiu no ônibus atrás de mim, acompanhada por dois caras. Ônibus cheio, sentaram-se na escada. Amélia cochichou-lhes algo que provocou risadas. Depois, com a destreza de uma stripper, agarrou-se no cano do ônibus e chegou ao pé do meu ouvido. Olá. Oi. Tudo bem? Tudo, e você? Tudo ótimo. E quis saber que faculdade eu fazia, quantos anos tinha e qual o meu nome. A um palmo da minha boca. Amélia, prazer. Prazer, você é colega da minha irmã. Ah, sou? Sim, é. Quem é sua irmã? M.O. Aaahh!, a M.! Fiz francês com ela, não faço mais. Pois sim.
Amélia tinha os cabelos loiros, cacheados e armados. Entrou na faculdade só loira, do cabelo curto e liso, tímida, comedida. Passado um ano (ou dois?), agora ela solta, solta como seus cabelos. Certa vez tirara a roupa no estacionamento da história pra tomar sol. Ficara nua, nua em pelo, em pleno horário de almoço, todas as mesas da cantina ocupadas pararam de comer pra assistir Amélia no sol. Se não fosse pelo segurança, 32 graus de sol teriam tingido toda sua brancura.
Você namora, ela quis saber. Namoro. Gosta da sua namorada? Muito. E é fiel? Sim. Nunca pulou a cerca? Jamais. Que pena, ela falou. E foi conversar com a moça da Filosofia, passou-lhe a mão nos cabelos, no rosto, na cintura. Olhos nos olhos. A moça deu bola, mas não tanta. Partiu pro lado de lá da catraca. Os amigos vieram falar comigo, se desculpar. Bobagem. E ela lá, do outro lado, sentou no colo do moço da Economia com aliança no dedo. Pediu um beijo, não conseguiu. Tentou arrancá-lo, também não deu certo.
Adiei o quanto pude pra passar a catraca, mas meu ponto era logo menos e tava lotado. Passei. Amélia veio e, como para muitos outros dali, me pediu um beijo. Disse que não, ela respeitou, me surpreendendo. Tentou mais uma vez a filósofa, nada. Desceu na Paulista, junto dos amigos. Fim de jornada.

Depois de alguns olás pelos corredores, Amélia desapareceu, pra só voltar semana passada. Da forma mais inesperada possível. Me surpreendes, Amélia.

30.5.10

Na sua

|
Passou a noite tranquila. Descia pra fumar um cigarro, subia pra assistir a festa acontecer. Levantou quatro ou cinco vezes pra buscar uma cerveja, abriu a boca três ou quatro vezes pra fazer algum comentário, lançou dois ou três sorrisos.
Foi pra casa dela. Buscaria o carro no dia seguinte, não se sentia em condições de dirigir. Nem queria dirigir. Subiram as escadas, cada uma no seu ritmo. Prepararam-se para dormir, cada uma no seu ritmo. Deitaram-se, cada uma no seu canto. Nem boa noite.
Acordou no meio da noite com uma mão contornando-lhe a cintura. Se eriçou como se fosse gelo. Abriu os olhos, olhou pro vazio. A mão continuou, entornou o umbigo, arranhou os vãos das costelas, alisou o bico do peito. E ela lá, imóvel. Ofegante. A mão desceu de norte a sul e ela lá, estática. E ofegante. Foi posta de bruços, suas pernas abertas. Ela também ofegava às suas costas. E mais. E e ela mais. Cada uma no seu ritmo. Sem pressa. Foi despida. As peles se roçavam. Sentiu dentes se cravarem em seu pescoço. Não conseguiu abafar o gemido. Se arrepiou do cóccix até a nuca, arqueou as costas e se soltou. Piscou forte. Seus olhos ziguezagueavam no vazio, como que tentando enxergar, mas era só o travesseiro. Sentiu uma gota de suor escorrer pelas suas costas. Não era dela. Os pelos do braço se eriçavam, e ela agarrava com mais força os lençóis. Tudo girava de leve. Apertou os olhos de novo, tentou focar o olhar no pé da cama. Tudo embaçado. Gemeu, dessa vez quase um sussurro.
Virou-se de lado, entrelaçou sua perna nas dela, segurando-a pela coxa direita. Encaixou a cabeça no peito dela. Dormiram, cada uma no seu ritmo. Acordaram, cada uma em um canto da cama.
Levantou primeiro, catou a calcinha ao pé da cama, depois calça, sutiã, camisa e agasalho. Vestiu peça por peça, cuidando pra não esquecer nada ali. Foi até o banheiro, ajeitou o cabelo com as mãos, lavou o rosto, bochechou pasta de dente. Escutou os passos dela. Desceu as escadas, destrancou o portão, saiu. Jogou as chaves por cima do muro e seguiu, sem olhar pra trás. No seu ritmo.

25.5.10

Sem querer

|
Chamou a menina de canto e pagou-lhe uma bebida, sem ofender. Levou-a pra casa, sem ofender. Rasgou seu vestido em dois, sem ofender. Jogou-a na mesa, sem ofender. Meteu bem dentro dela, sem ofender. E ficou ali, suando naquele vai-e-vem, olhando pra luminária, vai, pro prato sobre a mesa, vem, praquela cara de sofrimento, vai, pro retrato no criado-mudo, vem, (agradeceu a ele por ser mudo,) vai, pro prato que se espatifava ao chão, vem, pra gota de suor que escorria daquela nuca loura, vai, praquele pescoço molhado, vai, praqueles olhos que lhe encaravam, vem. Parou. Se afastou. O alívio naqueles olhos verdes o repeliu, como se o jogo acabasse. Se sentiu mal. Olhou pro vestido arregaçado, depois pro anular. Tentou disfarçar o embaraço.
Pegou uma camisa justa no armário, uma samba-canção e deu dinheiro pro táxi. Por favor, vá. E não tente lembrar onde eu moro. Sem ofensas.

24.5.10

Marcinha

|
Não sei como é que você consegue ficar tanto tempo com esse cara. Ele é tão grosso, Marcinha, que pisa no prego e não sangra. Eu não aguentava ficar com ele daqui até o meio dia. O cara te reprime desde o bafo do seu bom dia até o meloso do seu boa noite, te ofende, te machuca. E você, que não é do tipo que leva desaforo pra casa, há treze anos se deita com o próprio desaforo, Marcinha. Poxa. Já não é câncer que ameaça, é metástase.
O que é que você tá esperando? Há muitos peixes no mar. Peixe-palhaço. Peixe-espada. Namorado. Pacu. Ah, pacu é de rio. Tem o rio também, Marcinha! Você que sabe nadar vai tirar de letra. Quem sabe até um boto te aparece. Traíra não vale. E cuidado pra não cair na da Iara, que essa não é das suas.

... Só não me volte com essas histórias de pescador aposentado.

Auto-análise

|
Eu realmente tenho escrevido muito ultimamente, não?

23.5.10

Flávia

|
Acordou se sentindo meio upset aquele dia. Chateadinha, angustiada. (Mas upset caía melhor.) Não pelo fim, sim pelos meios que levaram a ele. Uma semi-briga de palavras escritas e com ampla margem para infelizes interpretações - de ambos os lados.
Ela própria havia incitado o fim, a outra só o perpetuara, com suas não mais do que cinco palavras. Flávia, beleza. Fico por aqui. Não conseguia entendê-las como sendo outra coisa que não ódio ou rancor, e isso certamente não era o que havia previsto. O ser humano é um bicho, que reage das formas mais inesperadas quando se sente ameaçado. E ela própria não escapava dessa observação.
Nada mais efêmero do que um caso de três encontros e um fim de cinco palavras. Poético.
Sentia coisas que não entendendia, nem sabia se podia. Tudo acaba. Era uma vez ninguém que sonhava ser alguém, atravessou a rua e morreu. Todos nós fedemos debaixo da terra, no fim. A gente nunca sabe quando, mas as coisas sempre acabam. Só que esse fim de cinema, esse fim surreal, esse fim lacônico lhe angustiava de uma forma indizível. E então ela se sentou no meio-fio e começou a escrever. Pra tentar entender. Pra tingir o papel de remorso. Essencialmente pra passar o tempo, já que chegara no ponto de encontro meia hora antes do combinado com sua carona, e não possuía muito mais do que uma coca-cola, uma caneta e uma caderneta amarela.

21.5.10

Fill in the blank

|
Nada me faz chorar. Filmes melosos, filmes bonitos, prova, entrega de trabalho, vontade de desistir da faculdade, fim de namoro, quebrar a cara, não poder correr, não poder jogar. Palavras cortantes, pancadas na cabeça, brigas, discussões, afrontas. Nada.

E eis que fui fazer um teste de psicologia. Teste de placas. (Quando a amiga da Psicologia pede com jeitinho, a gente atende.) Descreve uma, duas, três, onze. Falta só uma. As pessoas têm reações diversas a essa placa, ela avisou. E aí levantou a placa. E um branco olhou pra mim. E eu olhei pro branco. O que você vê? Capuf. Eu vejo nada. Eu não vejo... absolutamente nada. Nada. E aí eu chorei. Uma placa em branco me fez chorar. Uma placa em branco teria me feito chorar o dia inteiro, se eu não me controlasse. Aquele monte de nada olhando pra mim, e eu olhando pra ele. Aquele monte de nada me esperando. Como a minha vida ultimamente. Eu me vi naquele nada. Não quero nada, não faço nada, não tenho vontade de nada, não quero dizer nada quando digo nada.

Ééé, placa em branco... você vai pra análise.

20.5.10

Autocensura

|
É uma coisa que não costuma existir aqui. Se eu não tivesse ido dormir às cinco pra acordar as oito, hoje eu teria dito viu, get over it, já se passaram quase dois meses desde aquele dia em que você decidiu me culpar pelo mal do mundo. Não fui eu que fiz as coisas assim, cacete. Tendo dormido só três horas, meu cérebro decidiu que não seria um bom momento pra falar o que bem entendesse, uma vez que isso desencadearia novas discussões e eu estou tão azeda que minha boca não cospe muito mais do que vá se foder. Hmmn... acho que não seria uma discussão muito produtiva.
Mas algum dia minha falta de autocensura ainda me pega no contrapé e eu falo isso tudo aê duma vez só, e muito provavelmente não estarei bêbada pra poder ter uma desculpa. Bem como eu não estava quando escrevi uns par de coisa aí e apertei o "enviar" no email. Tenho que começar a aceitar esse meu caráter... excêntrico.

18.5.10

Não confundir choro com esporro

|
No espelho, aquela mesma olheira de uns tempos atrás me encara. Qualé, porra, eu queria saber, mas minha inexpressividade só me olha de volta com a mesma cara de sempre, e eu fico assim, não me dizendo nada o dia inteiro. Nada faço o dia inteiro, e nada continuo fazendo o resto da semana. Peguei o ônibus errado, esperei o ônibus certo no ponto errado, demorei uma hora a mais do que o normal pra chegar na faculdade, cheguei uma hora antes da aula começar e não entrei pra ficar conversando do lado de fora. Quanta determinação pra fazer um socialzinho.
No espelho, aquela mesma cara de mesmice me encara, mas, lá no fundo dos olhos, ela desesperadamente quer querer fazer alguma coisa dessas que dizem que dá futuro na vida, - estudar, trabalhar, etc. - mas ela não quer fazer porra nenhuma. Ela não consegue nada. Ela não consegue nem chorar. A última vez que lágrimas invadiram seu rosto, ou o meu, foi num casamento, e foi ridículo e chichê. A penúltima, foi quando torceu o pé, quase três semanas atrás. Não sendo uma dor física ou patética, ela nem sabia mais o que era chorar. Sentimento, o que é isso? Como funciona? O choro ficara entalado numa escadaria qualquer, três semanas atrás, pra nunca mais sair.

Ajuda. Alguém me ajuda? Eu não sei como. Só... ajuda. Compaixão, talvez. Não quero que me endireitem, que me peguem na mão pra estudar, que me ponham pra trabalhar. Só queria nunca mais me sentir assim na vida, muito menos com essa frequência. Eu acordo melhor, sempre melhor, e aí ninguém percebe nunca. Mas tem umas noites que, putaqueopariu, escondam os objetos cortantes da casa e me ponham pra dormir.

17.5.10

What is love anyway?

|
É ouvir tudo até o fim? É querer que a noite não acabe, ou desejar que o dia não comece? É perceber que as palavras já saíram da sua boca quando você sequer as tinha registrado? É estar junto? É respeitar o desejo de estar separado? É procurar vinis pro outro ouvir ao invés de estudar pra sua prova? É se submeter a um tipo de relacionamento que você não sabe se consegue levar? É passar o dia inteiro chorando por causa de alguém, ou um mês inteiro sem chorar porque não sente mais nada por ninguém? O que é essa porra desse amor, anyway?

14.5.10

Ensaio

|
Ah, ela era tão bonita. Ah, como ele queria chamá-la pra sair. Passou o dia pensando no que dizer, ensaiando, fantasiando o momento. Lembrou-se do que um amigo dissera, que sempre que queria dizer algo e não sabia bem como fazê-lo, escrevia antes, pra não esquecer ou se enrolar. Pegou uma folha de papel, escreveu, escreveu, escreveu. Amassou e atirou no lixo. Pegou outra, escreveu frente e verso, desistiu de novo. Algumas tentativas depois, quando já não havia mais folhas brancas, arrancou um pedaço de papel do caderno, rabiscou e enfiou no bolso.
Chegou no colégio adiantado, olhou prum lado, olhou pro outro, nada dela. Acendeu um cigarro, tragou, se engasgou com a fumaça, não sabia tragar. Uma mão tocou seu ombro, ele virou e lá estava ela. Gaguejou, tremeu na base, tocou o papel no bolso, desistiu. Se viu fazendo papel de bobo até a hora em que ela perguntou o que ele iria fazer amanhã depois da aula. Nada. Vamos fazer alguma coisa? Claro. Nos vemos na saída.

No bolso, o papel: "Como foi o seu dia?". Talvez ela gostasse dele, mesmo idiota.

11.5.10

EU

|
Me tornei um ser humano egoísta e medíocre, que não torceria pra uma greve em prol dos próprios treinos de futebol, se fosse o caso. Que fala de futebol e faz álbum da Copa e fala mal do Dunga enquanto o mundo cai, e não quer saber de muito além. Eu não leio jornal todos os dias, nem revistas, nem nada do tipo. Não sou engajada, leio as manchetes e clico nas que me interessam.
Se eu apoio que os deputatos tenham recesso remunerado durante a Copa? É óbvio que não. Se eu acho os salários da USP justos? É óbvio que não. Votaria, se fosse o caso, contra esse recesso idiota. Quanto à greve, me abstenho. Não ajudo, nem atrapalho, não voto contra, não faço nada. Engajados da Cidade Universitária, uni-vos. É óbvio que não vou votar contra os meus treinos quando eu mato aula pra jogar futebol, me desculpem. Falo isso mais pra ilustrar meu pensamento, uma vez que nem em condições de jogar eu estou.
... Mas é isso aí, eu sou medíocre. E não consigo sentar a bunda na cadeira pra estudar, e estaria jogando futebol sem culpa se fosse o caso. Quem vota depressão? Quem vota professores ruins? Quem vota falta de perspectiva? Quem vota vai se tratar? E forca, alguém?

10.5.10

Tudo pode dar certo

|
E ela vem. Empina a bunda e encosta o peito no balcão. O barman vê e faz que não vê, pega a caneta e faz que risca, se arrisca, mas não risca na comanda. O primeiro mojito é na faixa, o segundo nem tanto, o terceiro só se você for pra casa. A noite é uma criança, velha e drogada. Às vezes, a vida anda tão ingrata que só o que a gente quer é fazer as coisas sem pensar em nada. Então ela foi. E trepou sem camisinha, e foi bom, e era só o que importava. (Na hora.)
Na semana seguinte, poucas horas depois de regressar à Porto Alegre, sua boca soltava palavras de amor e suas mãos tremiam de ansiedade. No mês seguinte, a menstruação não desceu, nem no outro, nem no outro, e só desceria quando mandasse a cartilha do corpo humano.
Em São Paulo, atendeu o telefone um tal de Felipe, que sentou numa cadeira inexistente e passou o mês seguinte, e o outro, e o outro sentando de lado por causa do cóccix arrebentado, até quando mandasse a cartilha do corpo humano. Engoliu seco, ficou prostrado do outro lado da linha. Como convencer uma menina de que o filho que ela carrega no ventre não é seu, quando ela é lésbica e você foi o único pau amigo dos últimos cinco anos? Fim da linha.
Na vida, às vezes, pequenas ações podem mudar o curso de tudo. Se o cartão de crédito não tivesse travado, três, ao invés de duas caixas de camisinha estariam estocadas na cabeceira de Felipe. Mas ele teve que pagar em dinheiro, e achou que um tubo de pasta de dente seria mais importante do que aquela terceira caixa, e o mundo teria menos um Prado. Mas ele pediu duas.
Toca o telefone de novo. Felipe, não desliga até eu terminar de falar. 42 minutos depois, ele desabou no sofá, suspirou, segurou o rosto com as mãos, enfiou a cara na almofada. A 800 km dali, um casal se reconciliava e agradecia ao acaso por isso.
Marina, aquela da balada, pegara o primeiro voo pra São Paulo e caíra no seu balcão, após desabafar para a namorada não queria gestar filho algum. Sendo sua namorada infértil, desencadeou-se uma batalha homérica em torno da barriga de quem faria o quê, e coube aos deuses gregos plantar, naquela noite maluca, a semente que viria a resolver a discórdia.

... E Felipe Barreto nunca tivera tanta sorte na vida.

Ansiedade

|
A última coisa que comera fora o almoço, às 16h. Já passava das 2h e Tatiana sentia que devia ingerir algo. Nem sempre o desânimo vem acompanhado de uma explicação razoável. De todos os sentimentos negativos, aliás, o desânimo era o que mais lhe parecia irracional. Sem aviso, como quem não quer nada, ele vinha, e acabava por devastar-lhe. Pegou o último pedaço do pão de mel que guardava na mochila pra caso algum desejo enlouquecedor a assaltasse e gastou-o duma vez só, atirando o pedaço inteiro na boca. Levemente arrependida do gesto, esperou que o chocolate derretesse na boca pra só então mastigá-lo e finalmente engolir.
Amor próprio era algo que não funcionava muito no seu caso. Não que lhe faltasse algum, mas os gestos que julgava serem reflexo de amor próprio só lhe causavam mais remorso. Queria poder pegar o telefone, discar aquele número, que já sabia decor, e ouvir um alô do outro lado da linha. Queria poder dividir toda aquela aflição que a corroía por dentro. Queria extravazar todo aquele sentimento que explodia seu peito. Pra onde vai o amor quando ele é sufocado?
Acordou sem ar no meio da noite. Abriu a boca e puxou o ar depressa, sequencialmente, até de fato despertar e se dar conta do que acontecia. Estendeu a mão até o criado mudo, tateou por uma fração de segundos, encontrou a tal bombinha bronco-dilatadora. Um paliativo, sempre. Cansada e atordoada, fechou os olhos e não quis saber de desencadear pensamentos errantes no meio da noite.
Acordou com a cara enfiada no travesseiro, rosto de uva-passa. A luz do meio-dia invadia o quarto. Puxou o lençol até os olhos, rolou pro lado e desejou que já fosse o fim do dia. Desejou dormir por uma semana e levantar quadno sua vida já estivesse encaminhada. Merda.

Pegou o telefone. 3666, meia duro, meia mole. Um toque. Dois. Três. Caixa postal, e Tatiana ficou na cama de vez.

5.5.10

Menines e menines,

|
Estou mêa-alforriada agora. Troquei gesso pela botinha, já posso apoiar o pé no chão e fazer gelo 365 vezes ao dia. De acordo com o dr. Ortopedista, meus ligamentos são meio frouxos - deve ser familiar - e por isso a torção não fodeu tanto meus ligamentos quando foderia, por exemplo, os dele, que não é frouxo. De qualquer maneira. fico mais umas duas semanas com o tal do robofoot, depois com estabilizador, depois comigo mesma e aí é nóis. Devo voltar a jogar dentro de um mês e meio, então façam o favor de ganhar esses próximos jogos aê pra eu ainda ter o que fazer.

Pretendo aparecer no treino amanhã, caso haja. Fora, Sintusp, o futsal não pode parar.

.

Esse foi o email que mandei pro grupo de futsal. Devo ser levada a sério?

4.5.10

Cravo e canela

|
Gabriela, se eu soubesse que o meu vem te cairia como vai, teria te mandando pra putaqueopariu antes, pra quem sabe você cair aqui.

Meu jogo é Texas Hold'em. Dados, no máximo. Se a sua boca me pede um tempo pra assimilar os acontecimentos, por mais que você me encare de pé e com as duas mãos apoiadas sobre a mesa, por maior que seja o seu decote e por mais que ele me tire o foco, e por mais vermelhos que seus lábios estejam de tanto você mordê-los, eu vou te olhar de volta e simplesmente dizer tudo bem. Por mais que seu corpo diga possua-me e até quem vê de longe fique embaraçado por mim, eu vou atender às suas palavras quando elas me pedem pra ir devagar.
Ruiva, se vira-tempo não fosse coisa de lunático, eu seria rei nesse teu jogo maluco. Seus cabelos-fogo agora enfeitariam meu travesseiro branco, e eu teria que ser boa pra inventar uma piada cada vez que me perguntassem por que caralhos eu não paro de sorrir a esmo. Mas eles não estão, e eu ainda estou aqui, presa em devaneios no meio da madrugada, procurando por meios de reverter gestos irreversíveis.

3.5.10

No dia em que eu sair de casa sem roupa

|
Senhoras me olharão com pavor, senhores me olharão com fervor,quarentões tentarão me atacar. Meninas morrerão de pudor, garotos também. Os jornais noticiarão e todos comentarão. Os conservadores acharão um absurdo; os liberais virão em apoio, em bando. Sairei de tênis nos pés e lápis nos olhos, para que a polícia saiba que eu não sou indigente. Todos os próximos ficarão sabendo, mas ninguém terá coragem de perguntar à menina que saiu vagando pela rua nua em pêlo por que ela saiu nua em pelo. Um absurdo, um absurdo. Prendam-na! Não, não prendam. Alguém cubra essa menina, pelo amor de deus, ela vai pegar um resfriado. Tudo bem, dizem por aí que um espirro equivale a um trinta e seis avos de prazer de um orgasmo... Que mal há de fazer uma brisa outonal? Minha filha, você perdeu o juízo, perguntará a senhorinha da loja de penhores. Não, minha senhora, vocês é que perderam. Eu só saí de casa do mesmo jeito que vim ao mundo, e vocês agem como se nunca tivessem visto nada igual.

Jogo da Vida

|
- Garçom, um pouco de consistência, por favor.
- Não trabalhamos.
- Bom-senso, tem?
- Não se usa mais.
- Prudência?
- Também não, me desculpe.
- O que vocês têm, pois, meu bom homem?
- Cervejas, cachaças e batidas.
- Ah, é assim, então?
- Pra você, é o que tá guardado.
- Pra mim? Que desaforo.
- É você quem faz suas escolhas, filho.
- Mas isso não estava no contrato.
- Nada que um bom advogado não resolva.
- O que me resta, então?
- Vá pra casa, filho. Descanse um pouco.
- Já estou cansado de descansar.
- Retome o álbum amanhã. Quem sabe não vem alguma figurinha premiada.
- ... Quem sabe.
- Filho?
- Sim?
- Figurinha repetida não completa álbum.
- Vá discutir com os fornecedores.

2.5.10

Autoritarismo Parte II: Y-Control

|
Melina, minha menina, senta aqui do meu ladinho e fica quietinha, só um pouquinho. Suas costelas ainda estão arranhadas, e eu tenho certeza de que não foi pulando a cerca que você fez isso. Lixa essa unha, Melina. Se pudesse eu lixava até seus dentes, só pra garantir. Seu sovaco ficar um mês sem ver a cara da gilete também não seria má ideia. Não esquenta, Melina, que tá frio- não é como se você fosse usar regata. Ah, Melina, não faz essa cara pra mim. Não é assim.

Eu não tenho prazer nenhum em te controlar. Se eu te sufoco, Melina, é pra você não parar de respirar.

.

Clique aqui para ler Autoritarismo.

30.4.10

Pretexto

|
- Olha pra mim e me diz que tudo isso é verdade. Mas olha bem no fundo dos meus olhos, daquele mesmo jeito que você olhou naquele domingo boêmio de julho, e diz. Diz que não sente nada, diz que eu fui um passatempo errante. Diz que sair comigo te cansa a beleza e que você não vê a hora de ir embora daqui, escarrou Marina, pelando a língua no chocolate quente em seguida.

Mas ela não olhou, e nada falou. Simplesmente virou as costas e foi embora, marchando, imponente, pra virar a esquina e desabar no muro de tijolos mijado por gente e por cão. Tentara falar, mas o ar lhe subira até a glote, batera e voltara, não soltando palavra. Não é não, e por que caralhos é que essa gente tem que ser tão teimosa e insistir nas ideias quando sabe que tá certa? Não ficou pra enfrentar porque sabia que toda a vez que engolia as palavras sua reação seguinte era chorar. Em geral com um leve descontrole. Então foi embora.
Fez seu caminho pra casa a pé, passos largos e incertos. O sal das lágrimas fazia suas bochechas coçarem. O chão de repente pareceu tão próximo, e sua cabeça tão pesada, que, não fosse pelo judô, seu nariz jamais seria o mesmo. E que ridículo teria sido se alguém além do velhinho do outro lado da rua estivesse ali pra presenciar. (Antes da catarata, ele teria rido tanto quanto eu ou você.) Seguiu, dessa vez prestando tanta atenção pra não tropeçar na linha que se esqueceu de virar à direita duas quadras depois e só foi perceber na metade do quarteirão. Voltou.
Voltou correndo, correndo além do que seus pulmões normalmente permitiriam. Ofegava, bufava, lutava contra a asma. Encostou a testa no vidro do café. Seus olhos marejaram. Marina ainda estava lá, prostrada atrás do copo de chocolate quente e roçando a ponta da língua no céu da boca. Foi até ela. Levantou-a pelos cotovelos, entrelaçou os dedos atrás do seu pescoço e olhou-a nos olhos. Devorou-a com os olhos, como naquele domingo embriagado. Chegou tão de perto que pode ver que as pupilas dela se dilatavam conforme seu rosto se aproximava. Tête-à-tête, subiu-lhe a mão pela nuca e sentiu os cabelos fazerem cócegas por entre os dedos.

Não queria mais ter de disfarçar tombos pra velhinhos ceguetas.

29.4.10

Autoritarismo

|
Melina, minha menina, quantas vezes eu vou ter que te dizer? Não é só porque amor rima com dor que você deve juntá-los. O rejunte do seu box é cor de rosa e não há cândida que apague o que você faz nele. Os cortes na parte de dentro da sua coxa estão cada vez mais profundos, e, no dia em que você resolver trocar esse estilete vagabundo por um Olfa, os seus ligamentos nunca mais serão os mesmos. Você se sente culpada por trair sua namorada com a melhor amiga dela, mas sua culpa maior é porque a amiga é melhor que ela.
Melina, minha menina, toda a vez que a outra te chama de minha você tem vontade de se enforcar com aquela gravata do seu ex-namorado que ficou de lembrança no fundo do seu armário da noite de formatura em que você perdeu a vingindade e confirmou que a irmã dele era melhor. Mas esse nó que você dá, Melina, até o David Carradine fez melhor sem querer.
Melina, minha menina, toda vez que você chora, crava os dentes no braço pra se conter, mas quando sente o gosto de sangue, o choro cai livremente, e você vê o negativo da sua arcada projetado na sua pele, e pensa que caralhos eu faço agora, que já tá tudo fodido, e morde mais, e saliva, e soluça, e se engasga, e se cansa, e sossega.
Melina, minha menina, você não tem juntar amor com dor. Se quiser me bater, eu aguento. Se quiser quebrar meus copos, eu não me importo. Se quiser chutar a televisão, depois eu conserto. Mas Melina, minha menina, eu quero ver você manter esse sorriso bonito sem que ele te sangre por dentro, e quero sentir seu abraço como se você acreditasse que o seu dia seria melhor depois dele.

Pode destruir o meu apartamento, Melina, eu aguento. Mas se souber que você se cortou outra vez, eu te arrebento.

28.4.10

Liga da Justiça

|
Nunca quebrei nenhum osso, nunca torci nada, nunca precisei ser engessada.

Lá pros 13, numa aula de educação física, estava eu brincando de catar os cones fazendo-os girar com um pé e atirando-os pro alto com o outro, quando um deles rolou pro lado e me fez cair em cima do pulso direito. Não consigo me lembrar qual foi o tratamento, mas eu sobrevivi sem sequelas. Aos 14, no final do ano, na minha versão fictícia, tocou o telefone em casa, eu saí correndo e dei com o dedão no batente da porta. Na versão realística, estava eu, correndo e pulando pela casa, quando o batente da porta entrou na minha frente pra trincar a base do meu dedão direito. Um mês, talinha. Aprendi a escrever compreensívelmente com a mão esquerda. Demorava uns 5 minutos pra eu escrever meu telefone, mas e daí.
Anos de futebol, patinete, skate, patins, polícia-e-ladrão, subindo em árvores, escalando coisas. Alguns anos de artes marciais e afins.

Nunca quebrei nenhum osso, nunca torci nada, nunca precisei ser engessada. Até ontem. penúltimo treino de futsal antes do jogo de domingo. Alguma coisa engraçada aconteceu, eu estava rindo, parei pra ver o jogo, olhei pra trás, vi alguém vindo pela esquerda, cortei pra direita. Fez-se um plekt, klekt, tlekt, ou qualquer um desses sons que comece com uma consoante oclusiva, passe por uma vogal média não-arredondada e termine em outra oclusiva, um AH escapou da minha boca enquanto eu desabava no chão já chorando de dor, raiva e pensando que fodeu.

A vida em quadros é contraditória.

Acho que não vou conseguir jogar domingo. Acho que não vai dar pra bandejar. Vou fazer acupuntura amanhã. Acho que só vou assistir à aula de Latim. Não sei se consigo levantar sozinha. Definitivamente não vou conseguir jogar domingo. O gelo tá me doendo. Sem gelo tá pior. Preciso de carona até a faculdade. Preciso de carona pra ir embora da faculdade. Não sei como vou chegar até a sala. Não vou entrar nessa aula. Tem uma bola de tênis no meu tornozelo. Tem um gordinho do outro lado. Vou usar tala. Vou ter que engessar. Não vou poder fazer gelo amanhã. Não vou poder receber acupuntura no tornozelo. Posso ter rompido ligamentos. Meses de fisioterapia. Perdi o semestre. Não vou parar de chorar nunca mais. Vou melhorar antes do que vocês imaginam. Não consigo acreditar que vou melhorar de verdade.

Hmmn. Sepá, fodeu mesmo... Mas isso eu vou descobrir só semana que vem. Até lá, terei muletas canadenses batom-de-puta.

26.4.10

Magnólia Magrelinha

|
Ai, essa louça que não lava; essa panela que não limpa. Ai, esse pano que não esfrega; essa carne que não frita; essa casa que não arruma. A patroa quer carne bem passada, diz que tá crua. Ela que venha esquentar a barriga no fogão, então. Magnólia, magrelinha, não gostava de comer comida, vivia de bolacha, salgadinho e birita. E de ar nos dias de preguiça. Magnólia Magrelinha só botava o pé na cozinha porque senão tava no olho da rua.
Algum dia a patroa vai comer do pão que o diabo amassou, pensava ela com seus botões sempre que se sentia injustiçada pelo despotismo da casa. (Ela come, todo o dia, Mágui.)
Magnólia Magrelinha se emperequitava toda antes de ir ao supermercado ou à feira. Passava perfume, jogava uma água no cabelo, espremia as espinha, botava um vestido, trocava a havaiana pela tamanca. Pra quem você se arruma tanto, Mágui, perguntava o menino da patroa. Não é da sua conta, Vítor. Vai encontrar o namorado, é? Deixa de bobagem, moleque, vou no mercado, e não tenho namorado. Então pra quê? Se eu soubesse onde vou encontrar meu futuro namorado, me arrumava uma vez só. Tava melhor antes, retrucava ele, distante o suficiente pra escapar por um triz da tamanca voadora. Só que, naquele dia, Magnólia parou na banca de jornal pra comprar cigarros, onde conheceu um tal de Pirata, e de onde acabou saindo sem a virgindade no final da noite. Quem passou do lado de fora não quis saber se o furdunço que vinha de dentro era de gato, ratazana, de gato e ratazana, ou se era satanás mesmo, e seguiu apressado.

No dia seguinte, Magnólia Magrelinha comeu até feijão.

25.4.10

Dureza

|
Samantha não se entrega, é dura na queda. Seu radar há pouco falhara, mas agora já gritava PERIGO e ordenava que ela se afastasse, e assim ela obedeceu, somando outra camada de queratina à sua forte carapaça. Saiu de casa no dia seguinte, se arrastando com lentidão pelas ruas da cidade, os olhos bem apertados e o peito estufado. A carapaça lhe pesava um pouco, mas ela já não percebia mais. Gordos não também não sentem o peso da própria gordura, simplesmente o sabem. Mas ela era dura, e era melhor que essa rigidez fosse mantida. Se afrouxasse, qualquer faca vagabunda era capaz de superar as falhas da sua armadura, adentrar sua carne e arrancar seus órgãos fora. Fora justamente a rigidez que lhe permitira resistir àquela kerambit traiçoeira e inesperada. Permitira-lhe, ainda, retirá-la com as próprias mãos sem que muito sangue fosse perdido. Talvez ela até tivesse ficado desnorteada por 1,57 hora - tempo hábil para que pudesse se recompor. Agora estava tudo bem.
A vida tem de ser mais estável. Samantha aprendera a não esperar nada de ninguém, e gostaria que ninguém esperasse nada dela também. Não é pessimismo, é autopreservação. Dar a cara a bater dói, e ela não queria passar por tudo aquilo de novo. Não tão cedo. E isso até era compreensível, fossem quais fossem as circunstâncias que induzissem sua fé a tal crença. Mas não é sempre que um tapa acerta quando alguém dá a cara a bater.

Samantha, enquanto você for você, esse serzinho sorridente, dos olhos brilhantes e compactado em um metro e meio de fofura, sempre vai haver alguém de coração mole baixando a guarda pra deixar você entrar.

Maria Bonita

|
Chega em casa e logo entra no banho, lava o cabelo, raspa as axilas, tira os restos de cera da depilação ainda grudados nas coxas e na virilha. Espalha o hidratante pelo corpo enquanto espera o ferro esquentar; passa a camisa amarrotada. Abre a geladeira, escolhe qualquer coisa leve o suficiente pra ter fome em 2, 37 hora e pesada o suficiente pra aguentar firme até lá e come enquanto o desodorante não - Secos & Molhados ao fundo. Olha pro celular, inerte, e uma mensagem pula, eliminando qualquer insegurança. Arruma o cabelo. Encosta no sofá, pensa na vida, volta pro mundo, rouba o perfume da irmã e dá o toque final, lápis e rímel. Canta um pouco com o rádio, pega o telefone e disca. Ninguém atende.
Pronta pra guerra, ela fica lá, Bonita, bonita e inerte, com cara de tacho e shorts de gatinha, fazendo planos pra um programa que só fora agendado na sua cabeça e se sentindo a otária mais otária da cidade.

24.4.10

Sobre o apego

|
Das coisas no mundo às quais eu me apego exacerbadamente, sem sombra de dúvida as lembranças estão no topo do ranking. Apego material fode a vida. Você vai, se apega a um chaveiro idiota, ele quebra e - ah, que decepção que é. Tem um agasalho sem o qual você não vive, sempre na mala. Aí, um belo dia você sai da aula, esquece ele debaixo da cadeira e aí, putz, a vida tem que continuar. Nem aos seus óculos de grau dá pra se apegar, porque num dia de correria você os apoiou sobre a pia do vestiário enquanto colocava as lentes, saiu correndo pro treino e eles continuaram lá, jazendo junto do seu cérebro, e ninguém teve a decência de entregá-los nos achados & perdidos.
As lembranças não, elas sempre estão lá. Na hora certa, na hora errada... Pode contar. Até você, que tem Alzheimer, tem sua seleção preferida e inalterável de lembranças. É mais fácil perder algumas do que acrescentar outras, mas tudo bem, ninguém vai conseguir te lembrar do que você já esqueceu, então deupartiu.

Olá, lembranças, eu sou apegada a vocês. E vocês têm me feito muito feliz nesses últimos dias. E triste. E feliz. E triste. Mas, dessa vez, vou dar o repeat só nas felizes.

Fiona Apple

|
... Faz tanto sentido pra mim às vezes.

23.4.10

Dorinha Faceirinha

|
Olha de beira e vem de mansinho, toda faceira. Dorinha Faceirinha, sabe bem o que quer e não sai da linha, não faz rodeio. Bebe uma, duas, três, faz um floreio e vai faceira pro meio. Anda pra cá, anda pra lá e dá um tiro certeiro. Pausa pro cigarrinho, bebe mais uma e volta pro morrinho.
Dorinha Faceirinha, toda mimadinha, ontem ganhou um não e virou uma muca no sujeito, que caiu sem jeito bem no meio do chão. Mão nenhuma na minha bunda passa, que não é de graça. Ninguém sai ileso, tudo tem um preço.
Dorinha Faceirinha, seu único sustento é homem, pinto e relento. O pagamento é o programa, não precisa terminar na cama, Dorinha é quem manda. Dorinha Faceirinha, não é puta nem vadia, nem é mulher da vida. Tem casa, comida, e família.
De dia é Dora, respeitável secretária do Dr. Ferreira. Não demora, não levanta os olhos, não faz o que dá na telha. A gola rulê vai até a orelha. Mas à noite, Dorinha não quer saber de consulta, catapora ou penicilina; Dorinha anda até a esquina e faz só o que deseja, não pensa nem fraqueja. Ô Azulêjo, traz mais uma breja.

21.4.10

Worn me down...

|
Blind date. Quão assustador pode ser um blind date, era justamente o que ela pensava cá com seus seus botões e sua long long neck. Já passava das 18h20 e nada dela. Hmmn. Estaria ela no ponto de encontro errado? Ou ela (a outra ela, não ela própria) era só uma pessoa atrasada? Ou talvez isso caracterizasse o primeiro cano da sua vida? Ela (ainda a outra) poderia perfeitamente bem tê-la visto e ido embora. Ah, Carol, quanta falta de confiança no seu taco inexistente. Half blind date, pra ser mais precisa. (Não dá mais pra chamar de blind quando ambas as pessoas envolvidas já se viram por fotos.)
Pega o caderno, escreve. Escreve, escreve, escreve até não poder mais. Cansa. Levanta pra ir embora; cata as notas baixas no bolso e nada de notas baixas. (Nem altas.) E lá vem ela, lá longe, com um sorriso largo e óculos de grau na cara. Ôôô-lááá (e os óculos já evaporaram, mas nada de perguntar deles. Vai saber se foi essa meia cerveja ou só a desatenção. Em todo caso, melhor não dar pala.)
Ok, beber na padaria é meio fim de carreira, além de economicamente errado. Três cachaças depois e lá estava Carolina, petrificada e se perguntando por que é que o mundo tinha de ser tão esteticamente agradável, psicologicamente cativante e concretamente equivocado pra ela. Quando você abraça uma pessoa e não sente vontade de soltar nunca mais, até onde você deve se reprimir, sabendo que ela não pode ser sua?

Até... aqui.

A vida...

|
Sempre poderia ser mais fácil.

Mas é por isso que eu ando de skate e tento não pensar no resto. Não?

19.4.10

Maria Gasolina

|
Se você sempre foi assim eu já não posso afirmar, mas hoje você é uma piraninha.

A meio-lésbica do colégio de irmãos pregadores; o alvo das fofocas espinhosas de duzentos e poucos alunos da sétima série, sua série, por causa de pequenas intrigas românticas, hoje sai com velhos de pau pequeno e garagem grande, achando que é muito melhor. Não é amor, nem é paixão, não adianta tentar me enganar. O padrão a ser seguido é sempre o mesmo: a réplica repousa sobre a mesa do escritório, enquanto o verdadeiro espera na garagem. Idade elevada, às vezes é diferente, mas é sempre a mesma: a da crise. E você, Maria, com seus vinte e dois, se estica no banco de couro branco do co-piloto, joga a cabeça pra fora da janela e luta contra o vento. E os cabelos ali, do lado de fora, se agitam com rebeldia; e o vento à sua orelha não te deixa ouvir nada além de vento, grazadeus. E você não ousa botar a cabeça pra dentro, porque sabe que aquele velho só quer mesmo é te comer, mas até a hora chegar ele tenta jogar pra cima de você aquela conversa de rapazão que o tempo não ostracionou e que você já não aguenta mais, enquanto, você sabe, ele espera o viagra fazer efeito e finge procurar um motel que só vai encontrar assim que a barraca armar.
Se vale a pena? Vale a pena, se sua alma for pequena. Mas a gente sabe que você não é dessas, Maria, e disfarçar o bizarro se escondendo atrás do bizarro não faz de você uma melhor. Vai lá, volta pras suas menininhas e vai se divertir. Talvez uma delas até tenha dinheiro, e aí, olha só que legal a vida foi com você, dá até pra fazer sexo sóbria e de olhos abertos. E foda-se sua família, ninguém gostava dos seus coroas complexados.

18.4.10

Helena

|
Vá se foder era só o que ela tinha a dizer a alguém que jogou fora todo e qualquer amor contido naquele livro comprado anteontem e que nunca seria lido, e naquela carta homérica dentro dele que também nunca seria lida por jamais ter sido notada. Não que todos os sentimentos do mundo se traduzam, no final das contas, em amor, mas o caso em questão requeriu um pouco deste e trinta e dois reais para fazer com que ela quebrasse a rotina enfadonha do nada fazer, levantasse a bunda do sofá e fosse até a livraria debaixo do sol do meio-dia. Alemães, variantes e variáveis adquirem sardas com facilidade.
Meia hora olhando pro vazio pensando no que colocar naquela carta, outra meia pra escrever, 5 minutos de autocensura e uma fração de impulsividade pra lacrar o envelope, enfiá-lo no meio do livro e não se pensa mais nisso.
Todas as barreiras, nós na garganta, palpitações e afins derrubados pelo árduo gesto da entrega e expectativa foram magicamente restaurados por um sorriso plástico e pela indiferença daquela tal ao atirar o livro dentro da mochila sem ao menos ter lido fingido ler a orelha dele pra saber do que se tratava. E ela bem podia estar na putaqueopariu agora, que ninguém se incomodaria. (Às vezes a gente finge, mas não é por mal. Uma leiturinha dinâmica pra demonstrar interesse e dizer nas entrelinhas que vou ler assim que meu constrangimento passar, obrigada, não sei lidar com meus sentimentos.)
E assim Helena descobriu que não gostava da paixão. O que ela não descobriu ainda foi que a causa da sua amargura era o desdém alheio, e que ela não nascera pra ser saco de pancada de otário. Quanto à paixão, fica pra próxima, quem sabe até vale o esforço.

14.4.10

Questão

|
Por que eu ainda me intrigo com os meus leitores anônimos?

9.4.10

Eu queria...

|
Escrever uma declaração de amor. Queria escrever uma declaração de amor, dessas que emocionam as pessoas e que arrancam suspiros até das meninas desapaixonadas. Queria escrever uma declaração que fizesse com que todas caíssem aos meus pés e desejassem ter o meu amor.

Mas pra isso eu precisava de amor.



(Então eu te conquisto com o meu sarcasmo.)

7.4.10

Frouwn

|
Eu não sou ruim, eu não sou sacana e minha felicidade certamente não mora na infelicidade alheia. Acontece que, apesar de eu ser muito calculista em alguns pontos, tem coisas que a gente enlouquece se calcular demais.

5.4.10

Até onde...

|
Borboletas no estômago podem ser saudáveis? Porque isso que me queima aqui por dentro já tá way beyond the healthy.

Posso escrever aqui como se ninguém fosse pensar que me conhece só porque lê uma mínima fração das coisas que passam correndo pela minha cabeça? E posso sentir borboletas no estômago sem ter que pensar no que isso significa, nem discorrer profundamente sobre? Obrigada.

Que torcicolo de segunda-feira. Acordei espontaneamente às 9h, mas aparentemente não soube aproveitar o fato, visto que já passam das 11h e eu ainda estou aqui, on pajamas. E que post sobre tudo e nada.

Me sinto...

|
Uma adolescente de novo, quando leio esses posts revoltados.

Never you mind

|
Já não é mais a São Francisco o que vira o meu estômago do avesso; ela deve ter deixado de circular pelas minhas veias há mais de 24h. Tensão.

.

Eu queria escrever, talvez sobre paixão, mas acabei de ter uma briga que só me aflorou ódio. As pessoas conseguem ser tão infantis quando querem provar um ponto que são capazes de tirar um milhão de coisas do fundo do baú e jogar na sua cara duma vez só. Um milhão de coisas descontextualizadas e carregadas de rancor. E isso é tão revoltante que deixa pra lá o que eu queria escrever, porque só o que come meu estômago agora é o despotismo.

28.3.10

Somedays...

|
... Aren't yours at all
They come and go
As if they're someone else's days
They come and leave you behind someone else's face
And it's harsher than yours
And colder than yours

They come in all quiet
Sweep up and then they leave
And you don't hear a single floor board creak
They're so much stronger
Than the friends you try to keep
By your side

Downtown, Downtown
I'm not here, not anymore
I've gone away
Don't call me, don't write [...]











22.3.10

Yeah, go ahead

|
Destroy the world with your stupid rage.

Às cinco da manhã, o computador iluminava aquele cubículo que ela insistia em chamar de sala. Bosta de quitinete. Foi num desses dias que ela derrubou muralhas e devastou mundos com sua raiva incontrolável, aquela raiva que bate nos fracos quando alguma coisa minúscula puxa o gatilho e faz disparar uma saraivada de palavras cortantes em alvos inocentes. Seus olhos já se esforçavam além do normal pra conseguir ler as balas que seus dedos cretinos disparavam no Messenger; do lado de lá, alguém sentia cada tiro penetrar a carne e se afundava cada vez mais na cadeira. E de repente tudo se desanuvia e o óbvio surge, e ela quer retirar cada palavra escrita nessa última hora, mas já é tarde demais e aquele que costumava ser seu namorado já não conseguiria mais o ser porque tudo o que eles julgavam ser ter sido edificado em estruturas sólidas havia sido demolido nos últimos precisos 57 minutos. Três anos e meio, um mal entendido de MSN e mais três meses até que nada mais deles restasse ileso e tudo acabasse com cada qual desejando apagar o passado. E ela era orgulhosa demais pra pedir perdão, e, pra esse tipo de gente, apagar é o que resta.

I'm a very very complex person

|
I try to improve, but you see how I worsen...

17.3.10

Hoje...

|
Eu realmente não sinto vontade de fazer nada. Queria dormir, o dia inteiro. Inteiro. Não quero ler o texto que preciso ler pra amanhã, não quero ir pra usp ter uma aula que eu escolhi, não quero ligar pra ninguém e pedir colo. Não quero nem escrever esse post, sepá. Os dias em que eu agora fico em casa mofando são os piores dias, porque são exatamente os que eu costumava fazer uma coisa específica (ultimamente), e agora meio que não posso mais. Tenho me forçado a fazer certas escolhas que parecem certas, e tenho tido que passar por cima do conforto que seria deixá-las como estavam só porque não quero ter que enfrentar o mundo.

Odeio todos vocês para quem eu devo algum tipo de satisfação - família, conhecidos, conhecidos da família - e não queria dar nenhuma, porque o que acontece aqui comigo não hes pareceria significante o suficiente pra justificar o fato de eu não querer fazer nada - nem lhes dar satisfações. Agora, eu queria morar numa casa onde não existisse nenhuma relação que se assemelhe à familiar, pra poder passar o dia inteiro olhando pra tv desligada sem ninguém me pedir pra lavar louça, pagar contas, visitar a vó, ligar pra amiga de não sei quem que me ligou esses dias. Onde ninguém me ligasse pra reclamar quando eu saio no horário em que todos supostamente estavam dormindo - mas eu sabia que não estavam- sem avisar, e ralhassem ao telefone, anulando os motivos que me levaram a fazer tal coisa, e making it sound like it was all about them, not about me.

Eu não de fato odeio vocês, mas odeio, nesse momento, essa relação de obrigação que eu tenho com vocês. E essa obrigação de ter que ser cortês e política, porque, se eu não o for, vai parecer que há algo de errado comigo em relação a vocês. O que eu realmente quero dizer é: por que caralhos a gente não pode ter um problema sem que ele possa ser só nosso?

14.3.10

Babaca

|
Era um babaca. Não se sentia um babaca, simplesmente sabia que era. Que nem tpm: quando você age de forma estranha ou irracional muitas vezes num dia só, quando tudo parece absurdo e todas as explicações plausíveis já se esgotaram, é ela: a tpm. Você simplesmente sabe. Mas é claro que o babaca não fez este paralelo, afinal, ele era um ele.
Enquanto sua mente passeava nas profundezas do que beirava o subconsciente, seu dedo fazia desenhos no copo de chopp e ele fingia prestar atenção no que ela dizia, assentindo com a cabeça e soltando desses resmungos que encorajam a pessoa a continuar falando, toda a vez que ela fazia alguma pausa. Ela era tão... nova. E tão criança. E tão precipitada e eufórica. E isso o irritava dum tamanho que dava vontade de acabar com tudo, voltar pra casa e chamar o Claudionor. Mas ele ficava. Já fazia mais de dois meses que eles estavam saindo, e ele sempre ficava. Babaca.
Talvez porque com ela as coisas fossem mais leves. Leves e sem compromisso. E talvez ele só se irritasse porque, depois de 7 anos casado com uma pessoa, deve ser difícil se adaptar a alguém que não a sua esposa. 32 anos nas costas - 7 de casamento e 1 de namoro, contra os 22 dela -4 de faculdade e 5 de balada. É, devia ser isso.

Que tal a gente pedir a conta?

12.3.10

No espelho...

|
Um rosto pálido e amarelado me encara. Olheiras profundas revelam que a pessoa que me encara supostamente tem dormindo pouco. Um olhar morto é só o que me recebe do outro lado. Morto, sem expressão. Eu diria que a pessoa do lado é um espectro, se eu acreditasse nesse tipo de coisa. Talvez ela esteja só morta por dentro. Dizem que viu restos de um atropelamento um dia desses - o vidro do ônibus trincado, o sangue no chão, as gazes ao lado do sangue - e não sentiu nada além de uma curiosidade perita pela cena. A pessoa atravessou fora da faixa e de repente pow, ônibus, e caiu no chão e sangrou um sangue de Sweeney Todd; tem que ter vindo da cabeça, porque era sangue demais, e os paramédicos chegaram pouco depois e atenderam à vitima, deixando pra trás um bolo de gazes - que provavelmente não foram de muita ajuda, porque a pessoa já devia estar mais pra lá do que pra cá - e um borrão vermelho no asfalto, a partir do qual o sangue descia e se bifurcava, parando dum lado e tornando a se bifurcar novamente no caminho mais comprido dele; o sangue tão plástico que dava até vontade de tocar. Ao lado dela, aquela que costumava ser sua namorada sentia náuseas.
As olheiras mentem, porque ela tem dormido pelo menos as 8 horas de sono indicadas a todos e quaisquer humanos, coisa que nem de longe fazia no ano anterior, quando acordava às 7h atrasada, tendo ido dormir às 2h. Anemia parece plausível. Senão, como eu vou explicar pra mim mesma que minha cara não tem explicação? ... Porque não tem. E essa morte artística, essa morte de espírito, é consequência dos painkillers que sua mente se automedicou, e agora aquela que me olha no espelho não consegue sentir nada além do óbvio que não dá pra esconder e que eu não quero falar.

11.3.10

Sabe quando...

|
Você nem sabe se sabe direito se quer o que quer ou se acha que quer só porque queria querer? Aparentemente, ando querendo querer um monte de coisas, mas querer de verdade parece que eu não quero quase nada. Sabe assim? Ah, tem uma coisa que eu quero, mas essa eu queria não querer. O-pá, duas. Seja como for, até lá eu vou fazendo minhas coisas no automático, muitas vezes com indiferença, pra ver se alguma hora eu sinto alguma coisa. Que seja um choque.





[Posso estar anêmica, o que contribui pra vontade de nada fazer e supostamente justifica o fato de que, quanto mais eu durmo, mais quero dormir. Um pouco de explicação biológica pra camuflar o psicológico.]

9.3.10

So...

|
Eu tenho um milhão de novas ideias por minuto. Dizem que a nossa fase mais ativa do cérebro vai até os 22 anos, ou algo assim. (Ou pelo menos em A Prova dizem.)
Por dia, nas fases em que meu cérebro resolve ficar obcecado com a ideia de escrever um livro, eu consigo contabilizar em torno de três novas histórias. O problema é o uso que eu faço desse brainstorm. Registrar as coisas seria um bom começo.
Agora acho que finalmente encontrei uma história sobre a qual eu realmente sinta vontade de escrever, até perdi algumas horas de sono por causa isso. Ok, parte desse sono não estava realmente no horário concencionado pela sociedade como o ideal pra dormir, so what. O que eu quero dizer é que é só descobrir onde fica a trava pras suas ideias que elas logo vêm.

Se minha teoria estiver certa, eu aviso quando o livro estiver terminado. Não estou num momento pra desenvolver a fundo essas teorias. Mas isso é provavelmente culpa do meu sono.

Sobre a nudez

|
Não me atrevo a reler meu blog pensando no que as pessoas pensam quando leem o que eu escrevo. A gente sempre esconde mais do que expõe, no final das contas. E a maior parte de vocês não tem a menor ideia do que existe por trás dessas todas palavras minhas.

25.2.10

Meu coração...

|
Não sei (?) por quê...

Bate inconstantemente quando pensa em você. E minha cabeça se enche de questões e paranoias só de pensar no que você pode estar pensando quando pensa no quem eu não quero que você pense. As coisas poderiam ser mais fáceis, mas, se elas fossem mais fáceis, não seriam a mesma coisa.

Whatahell, eu devia parar de lamuriar por aí minhas incertezas e cogitar escrever alguma coisa que preste.

24.2.10

Só pra descontraiir:

|
Estreia do timão na Libertadores hoje, às 21h50. É nóis.

Só dá Corinthians na rua.

23.2.10

Estupidez

|
Sabe quando você faz algo tão idiota, mas tão idiota, que nem dá vontade de falar sobre o assunto? Na verdade você até quer falar, mas não quer que ninguém te diga o quão idiota você foi, porque... você já sabe disso e não precisa ser relembrado over and over again? Então. Tem um lado meu que até quer contar, mas o outro não se permite.
É como se você tivesse quebrado um ovo podre, visto que ele tá podre e misturado no bolo mesmo assim, por, talvez, um ato falho. Na hora de servir o cheiro de enxofre subiria ao nariz de todos, agora que o forno foi aberto, - provavelmente a casa inteira já cheirava a podre, mas ninguém sabia de onde vinha,- e você vai lá e come um pedaço, só pra consagrar o erro, pra depois perceber toda a cagada, lembrar do ovo podre, do momento em que tudo aconteceu, de quando você pensou que tivesse jogado o ovo fora e, finalmente, tem vontade de cavar um buraco e desaparecer.

... Assim.

20.2.10

Os últimos tempos...

|
... Parecem não ser uma maré de alegrias. Uma pessoa pessoa fica mal em função do namorado que ficou mal em função do filho que ficou mal porque, enfim, não vamos entrar nesses méritos. O amigo do pai é bipolar, descobriu aos 40 anos, mas tá tudo bem agora, he's on meds. O outro filho saiu de casa porque a vida com o irmão não andava fácil, tá procurando apartamento pra morar e pra isso tem que decidir se dá ou deixa a relação com a namorada, cônjuge, enfim.
Na hora de jantar todo o mundo janta, e, tradicionalmente, fala enquanto come, e os assuntos são os mesmos de sempre, ou seja, mulheres e dinheiro, ou coisas que acarretam dinheiro, ou foram meus ouvidos que só filtraram essas partes? E que mania deselegante, pra não dizer mais, essa das pessoas de peidar fedido na área não fumante do restaurante - tinha uma janela ao meu lado, mas devo lembrar que ela estava fechada, e as pessoas do lado de lá do vidro nem imaginavam o que se passava do lado de cá, e eu cogitei pelo menos umas três vezes deixar o meu prato de lado, enquanto pensava que ultimamente o mundo anda uma loucura e pelo menos três amigos meus estão dando um tempo ou terminando seus respectivos namoros, e a minha vida anda complicada, e será por causa disso que eu não consigo parar de pensar que eu só queria mesmo estar em casa vendo as Olimpíadas de Vancouver pra saber se tava passando alguma coisa de snowboard ou ski? De qualquer maneira, deve ter sido mais interessante ter ido pra lá do que ficar em casa me perguntando 'e agora, o que será da minha vida' sem ao menos poder mandar mensagens do meu celular porque eu mudei de plano e preciso esperar 24 horas (agora devem ser umas 18) até poder realizar operações que diminuiriam meus créditos.
Eu devo estar tão perdida que nem estou me preocupando de verdade com a possibilidade do resto do dinheiro suado que eu tenho no banco do trabalho de um mês como caixa numa loja de brinquedos sem ar condicionado ou horário de almoço definido acabar e eu ter de sobreviver depois disso com 200 reais por mês, e isso seria bem triste.

O único fator que me incomoda ao expor um pouco da minha vida cotidiana aqui é se os outros vão pensar mal de mim se algum dia lerem aqui o que eu falo deles quando o problema de verdade sou eu e não eles.

17.2.10

E se...

|
Você pudesse fazer as coisas de outro jeito, você tentaria? Mesmo sabendo que, por causa de um 'sim' ou de um 'não', sua vida poderia não ser nada do que ela é hoje? Você tentaria fazer melhor? Você poderia fazer melhor? Tudo aquilo que você acha que foi errado, você tentaria corrigir? ... Uma nova chance pra uma nova vida. Não?

... Ou você prefere guardar tudo o que passou e tentar não repetir os mesmos erros na próxima vez? Foram erros mesmo, ou, na hora que você fez, parecia fazer sentido tudo o que você fez? Eu me arrependo de ter sido precipitada demais, ansiosa demais. Pensando bem, se eu não os tivesse sido, talvez nada disso tivesse acontecido. O que eu poderia fazer? Ninguém prevê o Eterno Retorno. O máximo que se pode fazer é temer. Mas, se você acha que eu preferiria não ter passado por tudo isso, você está escandalosamente enganada. Mesmo que doa agora, eu não prefiro.

Será que, daqui a dois anos, eu vou estar passando por isso que você passa hoje? A verdade é que, quanto mais a gente procura uma resposta, mais pergunta a gente encontra.

10.2.10

Once i met a girl...

|
Uma bela vez, conheci uma bela menina, num belo lugar, que me encantou. Lembro de tê-la adicionado no Orkut (redes sociais são para fins superficiais) com alguma esperança de qualquer coisa, mas jamais nos reencontramos. Fuçando na internet hoje, cliquei na foto de alguém que não tinha a menor suspeita de quem seria, e lá estava ela, e na hora eu lembrei de tudo. Abri o álbum de fotos dela, mais pra relembrar como ela era do que pra descobrir sua atual aparência, e qual a minha decepção em encontrar a mesma pessoa e descobrir que, hoje, ela não me é minimamente bela? Mas não é possível! Ela era tão bela, com traços tão... atraentes, e hoje, oh well, nem os traços - que provavelmente não mudaram - me são mais belos.
É engraçado como nossos valores mudam com o tempo - 4 ou 5 anos, mais precisamente, ou menos vagamente. Mas mais engraçado mesmo, pra mim, é essa mudança nos meus valores estéticos. Hoje eu praticamente chuto tudo o que me botava de quatro aos quinze, e Freud facilmente o explicaria, mas isso não faz com que eu fique menos chocada.

E me é incrível como os livros que me são caros e marcantes alteram no meu jeito de escrever. Eu percebo.

6.2.10

Conjunto vazio

|
Nada mais vazio de conteúdo do que um comentário do nível "gostei do que você escreveu". Você vai lá, escreve 375 parágrafos, com 492 xingamentos ou metáforas sobre tudo e nada e só o que a pessoa tem a declarar é "gostei do que você escreveu"? É tão "não prestei atenção no que você escreveu e quero por algum motivo que você saiba que eu passei por aqui". É como você ficar, digamos, 15 minutos falando sobre o sexo dos anjos e o participante da conversa não tentar nem mudar de assunto.
Por outro lado, tem dias que eu tenho vontade de ficar uma hora só falando o que me vem à cabeça e gostaria de ter alguém pra me ouvir e concordar com tudo o que eu digo, sem nem um 'mas'. A gente sempre trabalha com a possibilidade do outro ter algo a declarar, mas, às vezes, dá vontade do outro compreender e concordar com tudo o que a gente diz. E deixar que a gente continue com nossa opinião intacta. Esse é meu vazio humano.

23.1.10

Sobre trabalho e etc

|
Trabalho numa loja de brinquedos desde o começo de dezembro. Dezembro foi uma correria - mês de natal, meia hora de almoço, nenhum dia de folga e jornada de 12 horas. Não reclamei (demais.) Voltei em janeiro, sossegado - mês de férias, uma hora de almoço, folga aos domingos e jornada de 8 horas.
... Mas, desde o retorno (de Jedi), não tem um dia que eu não sinta um pouquinho de vontade de pedir demissão. Não é porque a loja não tem gerente e tudo o que acontece tem que passar pelo dono, nem porque não tem nada pra fazer o dia inteiro e ele fica mudando as coisas de lugar, nem porque o chefinho sempre chama minha atenção quando eu erro alguma coisa por desatenção. Não é porque eu tenho que escolher entre levar meu próprio papel higiênico ou balançar até secar; nem porque, de vez em quando, eu saio pra almoçar às 17h30; ou porque eu raramente saio no horário do contrato que eu não assinei. O problema não é o que acontece, mas como acontece. É a gente se desdobrar em três e ter que ouvir que faz tudo errado sempre. É porque, quando eu digo A, o cara entende B e diz que eu falei besteira. Porque eu tenho que organizar uma zona de 1500 miniaturas dos Simpsons de acordo com suas respectivas temporadas, e ainda vem ele e desce a lenha em mim porque eu pergunto duas vezes o que exatamente é pra fazer. (Simplesmente não parecia verdade.) É porque ele pede pra gente começar a etiquetar mais de 200 produtos bem na hora do almoço e diz que ninguém vai ser liberado até terminar tudo. Porque nada lá dentro pode acontecer sem a vistoria dele, uma vez que ele não confia em ninguém. Tanto não confia, que, quando não tá na nossa orelha achando que a gente tá fazendo tudo errado, tá no escritório dele assistindo o que a gente faz pelas 17 câmeras que tem instaladas pela loja.

... Entendeu?