27.4.09

Tiro no escuro

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Se te espeto nas costelas é pra você pular, mas se nem assim você reage, eu peço com jeitinho. Com jeito você não gosta. Então como? A não-resposta é um tiro no cu de angustiante. Eu sou assim, você também. A gente não muda, mesmo assim ainda não morreu por tentar. 
Falar demais é um tiro no dente, você abre a boca pra tirar a roupa pro vento oeste e não quer se arrepiar. É ir pra trás vidro da bienal e achar que não vão te analisar. E depois ter que sorrir com um buraco na boca. Mesmo assim, ainda não morri por me expor. 
É assim que funciona: eu falo, você responde. Quando você não responde eu só falo. E na verdade eu não ligo pro fato de monologar, mas é que a insegurança de não saber o que você pensa me come por dentro. De falar sem parar um monte de coisas e você não concordar com uma sequer. Mas você sempre concorda. E eu não duvido. É só que... de vez em quando eu preciso ouvir. 
Falar é um tiro no mamilo porque você se contradiz o tempo todo, por mais mestre da retórica que você pense ser.

Foda-se. E quer saber? 


Vou te roubar, sumir do mundo e trancar num quartinho sem janelas nem luz pra ter você só pra mim. Não dividir nem com o sol, nem com os vizinhos, nem com o voyer do prédio lá longe. Ninguém. No escuro, porque o seu rosto eu vejo até de olhos fechados. 


24.4.09

Sentimental

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Alguns dias... eu simplesmente acordo fadada a me sentir triste. É só olhar pra alguma coisa que tenha uma lasca de história infeliz que meus olhos já transbordam e eu tenho que me conter. O problema é que raramente é por algo muito sério e profundo - é tipo olhar o bombom ruim inerte sobre a mesa, rejeitado por mim. Eu não o quis, nem minha mãe, e foi a avó de um paciente dela quem fez pra ganhar um extra cash. Não que não haja tristeza absoluta por trás disso, mas se for chorar por todo o mundo que tenta algo e não dá muito certo, ou pela puta pegou aids enquanto eu escrevo esse post, vou morrer desidratada. 

19.4.09

Dilemas e deveres

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Certo e errado, correto e incorreto. Uma pilha de coisas a fazer e a resolver. Quero tudo no meu tempo, mas o tempo não para pra mim. Não é tão errado assim achar que eu consigo acompanhar as coisas por fazê-las quando eu melhor julgar conveniente. Deve? ... Um pouco. Eu não sou muito adaptável. Só quando já é tendencioso, aí não chama mais adaptação. Pra mim, adaptação pressupõe sofrimentos no meio do caminho. Enfim.
Domingo não é dia de filosofia barata. Jogo às 16h, é só o que importa. E que eu tô na frente do computador de pijama ao invés de ajudar a humanidade ou de tomar banho. Minha mãe ainda me mata. 




11.4.09

There's a staaarmaaan

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... waiting in the skyyyy...


Não são os outros que me distraem ou a comida que fica pronta ou o banho que eu tenho que tomar agora ou a cadeira que tá ruim ou a mesa que tá bamba ou o Wall-e olhando pra mim ou a música que atrapalham e não me deixam fazer o trabalho. Penso que é uma condição do ser humano sentar para trabalhar e se envolver com os demais objetos dispostos ao seu redor. Deve ser chata demais essa objetividade de sentar na mesa, em frente ao computador ou onde quer que se trabalhe e simplesmente fazer o que se deve fazer. Digo "deve" porque nunca o fiz, portanto não posso categoricamente afirmar. Por que fazer o trabalho em dez horas, sendo que posso fazê-lo em vinte e que três e treze delas serão de puro auto divertimento, criatividade e expressão do meu eu interior para comigo mesma? Ainda tenho mais de setenta e duas horas pra terminá-lo, não há pressa. É assim que eu produzo o melhor de mim, que me vem aquela palavra-chave que faltava pra terminar a questão do jeito que eu queria. Isso porque estou num bom momento de vida, feliz comigo mesma e com aquilo, aqueles - e aquela - ao meu redor e me suporto por umas tantas horas no meio da minha consciência, dos meus pertences, dos meus desenhos, etc.
Creio também que o contato com textos auto afirmativos, prolixos e enrolados suscitam em nós, leitores, a inconsciente vontade de reproduzi-los à nossa maneira. De qualquer forma, sinto que é tarde e que deveria partir-me. Guardarei o resto da minha chatice pro meu travesseiro.
Queria poder controlar os fenômenos do meu corpo e não menstruar mais até o ano que vem (sem que isso repercuta algum dia na minha integridade física).
Ah! Acabei de perceber uma segunda voz muito engraçada e robótica na Big Mouth Strikes Again dos Smiths sempre que ele canta"Big Mouth, larararaw...". Na verdade começa no começo, no "now I know how Joana D'Arc felt...". Reparem nisso. A música jamais será a mesma. Frutos de uma solitária madrugada produtiva na frente do computador corroborando a escoliose.




3.4.09

Relatos de um babaca III

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- Você, terminou o namoro?
- Não que isso devesse mudar em alguma coisa a sua vida.
- Mas e aquela história de felizes para sempre? Não era o seu o melhor namoro do mundo?
- Era, até não ser mais.
- E quando deixou de ser?
- Quando os trejeitos dele começaram a me irritar.
- Só isso?
- Você acha que é só?
- Acho.
- Isso é a maior evidência de que a paixão acabou.
- E quanto ao amor?
- Ainda existe.
- Duvido.
- É verdade.
- Prova.
- Não tenho que provar nada pra você.
- Tudo bem. Vou continuar duvidando.
- Vai se foder.
Silêncio. Mais um Claudionor, barméin.
- É claro que ainda existe amor.
- Ahã.
- Você tá fazendo isso só pra me irritar, eu sei.
- Não. Eu simplesmente não acredito. Existe? Onde?
- Eu sinto.
- Não sente, não.
- Sinto aqui dentro de mim.
- Sente vontade de encontrar com ele?
- Agora, nesse exato momento?
- É.
- Não.
- Então. Acabou.
- Reducionista.
- Sente falta dele?
- Diariamente. Quando percebo que ninguém depende de mim pra fazer coisa alguma. Que vou sair do trabalho e ir direito pra casa. E que não tem ninguém esperando o telefone tocar por minha causa.
- Isso é falta de um compromisso.
- Que ninguém vai discordar do filme que eu aluguei.
- Solidão.
- Quando percebo que li todos aqueles livros que pretendia ter lido nos últimos tempos em menos de três meses.
- Bem-vinda à liberdade, gata.
- Sua liberdade se resume a uma mesa de bar.
- E à falta de satisfações.
- E ao seu umbiguismo.
- Não é bom ter todos os seus copos, pratos e talheres fora do armário aumentando a pilha da louça sem ninguém pra ralhar com você?
- De certa forma, sim.
- E usar o guardanapo até o fim depois que acabou o papel higiênico?
- Hmm.
- Ouvir música de madrugada de portas abertas e ninguém acordar?
- É ótimo.
- Eu sei.
- Agora você vai dizer que minha vida girava em torno dele.
- Não será diferente com o próximo, gata.
- Como você pode ter tanta certeza?
- Faz parte de você.
- Tanto faz, o próximo demorará a vir. Quero curtir minha liberdade.
- Um brinde. - Tlin. - A quinze minutos daqui tem um whisky 15 anos ansiosamente esperando por você pra ser aberto. Vamos pra minha casa.