25.9.09

Bola de Sebo

"Os habitantes, nos seus quartos escurecidos, sentiam o desespero que os cataclismos provocam, os grandes abalos destruidores da terra, contra os quais toda sabedoria e toda força são inúteis. A mesma sensação ressurge cada vez que se subverte a ordem estabelecida das coisas, quando a segurança não mais existe, quando tudo quanto protegiam as leis dos homens ou as da natureza se acha à mercê de uma brutalidade inconsciente e feroz. O tremor da terra, que esmaga sob as casas desmoronadas um povo inteiro; o rio transbordante, que carrega os camponeses de permeio com os cadáveres dos bois e os caibros arrancados dos telhados; ou o exército glorioso, trucidando os que se defendem, fazendo os outros prisioneiros, pilh..."

Uma freada brusca, uma mulher grita, as pessoas dentro do ônibus lutam contra a inércia, minha perna cruzada e minha mão me impedem de bater os dentes no banco da frente. Sobe a adrenalina, a garganta seca e as pupilas se dilatam. A cabeça mulher da Filosofia aparece no meio do bolo de gente que se formou no corredor do ônibus. A porta da frente se abre, uma mulher de meia-idade entra vagarosamente, apoiada no CET. É a pressa, ela diz. A outra, atrás do ônibus, responde pra quem quer ouvir, que é a pressa, mas morre atropelada. Os passageiros são obrigados a deixar o ônibus pra mulher ser atendida, e saem resmungando, putos porque a atropelada lhes atrasou o dia.