As coisas já se embaralhavam quando ela sentou à minha mesa. Logo em seguida, Paulo se foi. Ou essa foi minha impressão. Depois da quinta cachaça fica mais difícil distinguir o tempo real do relativo. Quinta, sexta. Claudionor torna a contagem ainda mais difícil. Tanto faz. Enquanto isso, Maria falava da vida, pulando alguns detalhes e se detendo em outros, de acordo com o movimento dos meus olhos e minha inquietude na cadeira. As pessoas passavam ao fundo falando coisas mais interessantes do que o novo namorado dela. A menina de roxo situava a outra com palavras surpreendentemente rápidas sobre o rapaz que cruzava o bar e agora passava por elas pra pegar outra cerveja enquanto a amiga comentava que estava frio e ela de repente sentia vontade de outra cerveja. Impressionante a necessidade que as mulheres sentem de falar sobre suas trepadas em frente aos ex-namorados pra ver se eles sentem ciúmes. Garçom bom é aquele que vê que a gente tá entediado e traz mais bebida. A saideira. Dei um gole, ela virou o resto e aceitou minha carona.
Maria era uma mesa. Um cão. Uma vaca. Ou qualquer outra coisa sustentada por quatro pernas. Ou uma galinha, agora num sentido mais pejorativo e menos estético. Maria era o que eu quisesse, e teria o nome que eu desse. Menos Paula, Adriana, Luíza, Carla, etc. Era uma mesa de sinuca, esperando a próxima tacada pra poder mexer nas bolas num só estouro. E assim ela fez, apagando-me em seguida com rádio-relógio da cabeceira pra depois terminar a vingança com o batom. O rádio-relógio teve conserto. Eu, nunca.
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