25.5.09

Lavoisier

Me mandaram fazer cocô no jornal, que nem cachorro. Há alguns dias meu estômago - ou sei lá que outro órgão - tem feito barulhos estranhos e doído, e minha mãe, que não se conforma com o fato de eu ter virado uma magricela em tão pouco tempo, cismou que é bicho. Então me mandaram fazer cocô no jornal e catar com a pazinha. Quatro é um bom número. Quatro já é suficiente. Obediente, peguei o potinho de cagar no laboratório após fazer exame de sangue, - porque minha mãe não se conforma com eu ter virado uma magricela e não ter nenhuma disfunção hormonal, ou, pelo menos, uma anemiazinha, - vim pra casa, quebrei o jejum e fiz cocô no jornal, que nem cachorro. Na verdade, prendi o jornal com a tampa da privada (aquela que é um aro), afundei ele um pouquinho pro feitiço não virar contra o feiticeiro e, como dizia, obedientemente fiz cocô no jornal. Foi quase a mesma coisa que fazer na água, mas ao invés de tchploc-tchibum fez pof pof pof. Voltei ao laboratório, enfrentei quarenta minutos de fila só pra entregar um cocô dentro dum ponte com conservantes de cocô, li várias páginas de Fun Home, recomendo veemente, e fui entregar o cocô no pote pra mulherzinha. Oi, vim entregar uma coleta. Qual seu nome? Flávia Onaga. Coleta de quê? Fezes. Entrega de dejetos, escreveu no computador. Vestiu uma luva. Entreguei o pote de cocô com cocô dentro e fui recebida com a mesma cara que provavelmente seria se entregasse o cocô de mão pra mão. Até olhei duas vezes pro pote pra ver se estava tampado e percebi que o fecho do pote não era dos melhores, porque o rótulo de "exame de fezes" tava meio molhado de conservante com cocô, possivelmente cocô com bichos. Tchau, boa tarde.