15.5.09

Na rua

A velhinha se escondendo do sol queima-couro à sombra do poste e não era nem no ponto do ônibus. A velhinha carregando capenga a casa inteira dentro de uma sacola de feira. A velhinha das marcas cravadas no rosto. Do sol, da idade, da vida. Do padrasto alcoólatra em 1943. E do marido alcoólatra naquela noite de 1983 que o ferro quentinho ficou em cima da mesa depois de terminar as roupas. A velhinha do rasgo que a chinela fez entre os dedos do pé. Arrasta, arrasta, arrasta e com a terra desgasta a pele que resta. A velhinha corcunda porque não há mais nada pra se ver adiante.



Ilustração por Amanda Spadotto