3.4.09

Relatos de um babaca III

- Você, terminou o namoro?
- Não que isso devesse mudar em alguma coisa a sua vida.
- Mas e aquela história de felizes para sempre? Não era o seu o melhor namoro do mundo?
- Era, até não ser mais.
- E quando deixou de ser?
- Quando os trejeitos dele começaram a me irritar.
- Só isso?
- Você acha que é só?
- Acho.
- Isso é a maior evidência de que a paixão acabou.
- E quanto ao amor?
- Ainda existe.
- Duvido.
- É verdade.
- Prova.
- Não tenho que provar nada pra você.
- Tudo bem. Vou continuar duvidando.
- Vai se foder.
Silêncio. Mais um Claudionor, barméin.
- É claro que ainda existe amor.
- Ahã.
- Você tá fazendo isso só pra me irritar, eu sei.
- Não. Eu simplesmente não acredito. Existe? Onde?
- Eu sinto.
- Não sente, não.
- Sinto aqui dentro de mim.
- Sente vontade de encontrar com ele?
- Agora, nesse exato momento?
- É.
- Não.
- Então. Acabou.
- Reducionista.
- Sente falta dele?
- Diariamente. Quando percebo que ninguém depende de mim pra fazer coisa alguma. Que vou sair do trabalho e ir direito pra casa. E que não tem ninguém esperando o telefone tocar por minha causa.
- Isso é falta de um compromisso.
- Que ninguém vai discordar do filme que eu aluguei.
- Solidão.
- Quando percebo que li todos aqueles livros que pretendia ter lido nos últimos tempos em menos de três meses.
- Bem-vinda à liberdade, gata.
- Sua liberdade se resume a uma mesa de bar.
- E à falta de satisfações.
- E ao seu umbiguismo.
- Não é bom ter todos os seus copos, pratos e talheres fora do armário aumentando a pilha da louça sem ninguém pra ralhar com você?
- De certa forma, sim.
- E usar o guardanapo até o fim depois que acabou o papel higiênico?
- Hmm.
- Ouvir música de madrugada de portas abertas e ninguém acordar?
- É ótimo.
- Eu sei.
- Agora você vai dizer que minha vida girava em torno dele.
- Não será diferente com o próximo, gata.
- Como você pode ter tanta certeza?
- Faz parte de você.
- Tanto faz, o próximo demorará a vir. Quero curtir minha liberdade.
- Um brinde. - Tlin. - A quinze minutos daqui tem um whisky 15 anos ansiosamente esperando por você pra ser aberto. Vamos pra minha casa.