27.4.09

Tiro no escuro

Se te espeto nas costelas é pra você pular, mas se nem assim você reage, eu peço com jeitinho. Com jeito você não gosta. Então como? A não-resposta é um tiro no cu de angustiante. Eu sou assim, você também. A gente não muda, mesmo assim ainda não morreu por tentar. 
Falar demais é um tiro no dente, você abre a boca pra tirar a roupa pro vento oeste e não quer se arrepiar. É ir pra trás vidro da bienal e achar que não vão te analisar. E depois ter que sorrir com um buraco na boca. Mesmo assim, ainda não morri por me expor. 
É assim que funciona: eu falo, você responde. Quando você não responde eu só falo. E na verdade eu não ligo pro fato de monologar, mas é que a insegurança de não saber o que você pensa me come por dentro. De falar sem parar um monte de coisas e você não concordar com uma sequer. Mas você sempre concorda. E eu não duvido. É só que... de vez em quando eu preciso ouvir. 
Falar é um tiro no mamilo porque você se contradiz o tempo todo, por mais mestre da retórica que você pense ser.

Foda-se. E quer saber? 


Vou te roubar, sumir do mundo e trancar num quartinho sem janelas nem luz pra ter você só pra mim. Não dividir nem com o sol, nem com os vizinhos, nem com o voyer do prédio lá longe. Ninguém. No escuro, porque o seu rosto eu vejo até de olhos fechados.