2.6.10

Amélia

Subiu no ônibus atrás de mim, acompanhada por dois caras. Ônibus cheio, sentaram-se na escada. Amélia cochichou-lhes algo que provocou risadas. Depois, com a destreza de uma stripper, agarrou-se no cano do ônibus e chegou ao pé do meu ouvido. Olá. Oi. Tudo bem? Tudo, e você? Tudo ótimo. E quis saber que faculdade eu fazia, quantos anos tinha e qual o meu nome. A um palmo da minha boca. Amélia, prazer. Prazer, você é colega da minha irmã. Ah, sou? Sim, é. Quem é sua irmã? M.O. Aaahh!, a M.! Fiz francês com ela, não faço mais. Pois sim.
Amélia tinha os cabelos loiros, cacheados e armados. Entrou na faculdade só loira, do cabelo curto e liso, tímida, comedida. Passado um ano (ou dois?), agora ela solta, solta como seus cabelos. Certa vez tirara a roupa no estacionamento da história pra tomar sol. Ficara nua, nua em pelo, em pleno horário de almoço, todas as mesas da cantina ocupadas pararam de comer pra assistir Amélia no sol. Se não fosse pelo segurança, 32 graus de sol teriam tingido toda sua brancura.
Você namora, ela quis saber. Namoro. Gosta da sua namorada? Muito. E é fiel? Sim. Nunca pulou a cerca? Jamais. Que pena, ela falou. E foi conversar com a moça da Filosofia, passou-lhe a mão nos cabelos, no rosto, na cintura. Olhos nos olhos. A moça deu bola, mas não tanta. Partiu pro lado de lá da catraca. Os amigos vieram falar comigo, se desculpar. Bobagem. E ela lá, do outro lado, sentou no colo do moço da Economia com aliança no dedo. Pediu um beijo, não conseguiu. Tentou arrancá-lo, também não deu certo.
Adiei o quanto pude pra passar a catraca, mas meu ponto era logo menos e tava lotado. Passei. Amélia veio e, como para muitos outros dali, me pediu um beijo. Disse que não, ela respeitou, me surpreendendo. Tentou mais uma vez a filósofa, nada. Desceu na Paulista, junto dos amigos. Fim de jornada.

Depois de alguns olás pelos corredores, Amélia desapareceu, pra só voltar semana passada. Da forma mais inesperada possível. Me surpreendes, Amélia.