29.4.10

Autoritarismo

Melina, minha menina, quantas vezes eu vou ter que te dizer? Não é só porque amor rima com dor que você deve juntá-los. O rejunte do seu box é cor de rosa e não há cândida que apague o que você faz nele. Os cortes na parte de dentro da sua coxa estão cada vez mais profundos, e, no dia em que você resolver trocar esse estilete vagabundo por um Olfa, os seus ligamentos nunca mais serão os mesmos. Você se sente culpada por trair sua namorada com a melhor amiga dela, mas sua culpa maior é porque a amiga é melhor que ela.
Melina, minha menina, toda a vez que a outra te chama de minha você tem vontade de se enforcar com aquela gravata do seu ex-namorado que ficou de lembrança no fundo do seu armário da noite de formatura em que você perdeu a vingindade e confirmou que a irmã dele era melhor. Mas esse nó que você dá, Melina, até o David Carradine fez melhor sem querer.
Melina, minha menina, toda vez que você chora, crava os dentes no braço pra se conter, mas quando sente o gosto de sangue, o choro cai livremente, e você vê o negativo da sua arcada projetado na sua pele, e pensa que caralhos eu faço agora, que já tá tudo fodido, e morde mais, e saliva, e soluça, e se engasga, e se cansa, e sossega.
Melina, minha menina, você não tem juntar amor com dor. Se quiser me bater, eu aguento. Se quiser quebrar meus copos, eu não me importo. Se quiser chutar a televisão, depois eu conserto. Mas Melina, minha menina, eu quero ver você manter esse sorriso bonito sem que ele te sangre por dentro, e quero sentir seu abraço como se você acreditasse que o seu dia seria melhor depois dele.

Pode destruir o meu apartamento, Melina, eu aguento. Mas se souber que você se cortou outra vez, eu te arrebento.