26.4.10

Magnólia Magrelinha

Ai, essa louça que não lava; essa panela que não limpa. Ai, esse pano que não esfrega; essa carne que não frita; essa casa que não arruma. A patroa quer carne bem passada, diz que tá crua. Ela que venha esquentar a barriga no fogão, então. Magnólia, magrelinha, não gostava de comer comida, vivia de bolacha, salgadinho e birita. E de ar nos dias de preguiça. Magnólia Magrelinha só botava o pé na cozinha porque senão tava no olho da rua.
Algum dia a patroa vai comer do pão que o diabo amassou, pensava ela com seus botões sempre que se sentia injustiçada pelo despotismo da casa. (Ela come, todo o dia, Mágui.)
Magnólia Magrelinha se emperequitava toda antes de ir ao supermercado ou à feira. Passava perfume, jogava uma água no cabelo, espremia as espinha, botava um vestido, trocava a havaiana pela tamanca. Pra quem você se arruma tanto, Mágui, perguntava o menino da patroa. Não é da sua conta, Vítor. Vai encontrar o namorado, é? Deixa de bobagem, moleque, vou no mercado, e não tenho namorado. Então pra quê? Se eu soubesse onde vou encontrar meu futuro namorado, me arrumava uma vez só. Tava melhor antes, retrucava ele, distante o suficiente pra escapar por um triz da tamanca voadora. Só que, naquele dia, Magnólia parou na banca de jornal pra comprar cigarros, onde conheceu um tal de Pirata, e de onde acabou saindo sem a virgindade no final da noite. Quem passou do lado de fora não quis saber se o furdunço que vinha de dentro era de gato, ratazana, de gato e ratazana, ou se era satanás mesmo, e seguiu apressado.

No dia seguinte, Magnólia Magrelinha comeu até feijão.