28.4.10

Liga da Justiça

Nunca quebrei nenhum osso, nunca torci nada, nunca precisei ser engessada.

Lá pros 13, numa aula de educação física, estava eu brincando de catar os cones fazendo-os girar com um pé e atirando-os pro alto com o outro, quando um deles rolou pro lado e me fez cair em cima do pulso direito. Não consigo me lembrar qual foi o tratamento, mas eu sobrevivi sem sequelas. Aos 14, no final do ano, na minha versão fictícia, tocou o telefone em casa, eu saí correndo e dei com o dedão no batente da porta. Na versão realística, estava eu, correndo e pulando pela casa, quando o batente da porta entrou na minha frente pra trincar a base do meu dedão direito. Um mês, talinha. Aprendi a escrever compreensívelmente com a mão esquerda. Demorava uns 5 minutos pra eu escrever meu telefone, mas e daí.
Anos de futebol, patinete, skate, patins, polícia-e-ladrão, subindo em árvores, escalando coisas. Alguns anos de artes marciais e afins.

Nunca quebrei nenhum osso, nunca torci nada, nunca precisei ser engessada. Até ontem. penúltimo treino de futsal antes do jogo de domingo. Alguma coisa engraçada aconteceu, eu estava rindo, parei pra ver o jogo, olhei pra trás, vi alguém vindo pela esquerda, cortei pra direita. Fez-se um plekt, klekt, tlekt, ou qualquer um desses sons que comece com uma consoante oclusiva, passe por uma vogal média não-arredondada e termine em outra oclusiva, um AH escapou da minha boca enquanto eu desabava no chão já chorando de dor, raiva e pensando que fodeu.

A vida em quadros é contraditória.

Acho que não vou conseguir jogar domingo. Acho que não vai dar pra bandejar. Vou fazer acupuntura amanhã. Acho que só vou assistir à aula de Latim. Não sei se consigo levantar sozinha. Definitivamente não vou conseguir jogar domingo. O gelo tá me doendo. Sem gelo tá pior. Preciso de carona até a faculdade. Preciso de carona pra ir embora da faculdade. Não sei como vou chegar até a sala. Não vou entrar nessa aula. Tem uma bola de tênis no meu tornozelo. Tem um gordinho do outro lado. Vou usar tala. Vou ter que engessar. Não vou poder fazer gelo amanhã. Não vou poder receber acupuntura no tornozelo. Posso ter rompido ligamentos. Meses de fisioterapia. Perdi o semestre. Não vou parar de chorar nunca mais. Vou melhorar antes do que vocês imaginam. Não consigo acreditar que vou melhorar de verdade.

Hmmn. Sepá, fodeu mesmo... Mas isso eu vou descobrir só semana que vem. Até lá, terei muletas canadenses batom-de-puta.