25.4.10

Dureza

Samantha não se entrega, é dura na queda. Seu radar há pouco falhara, mas agora já gritava PERIGO e ordenava que ela se afastasse, e assim ela obedeceu, somando outra camada de queratina à sua forte carapaça. Saiu de casa no dia seguinte, se arrastando com lentidão pelas ruas da cidade, os olhos bem apertados e o peito estufado. A carapaça lhe pesava um pouco, mas ela já não percebia mais. Gordos não também não sentem o peso da própria gordura, simplesmente o sabem. Mas ela era dura, e era melhor que essa rigidez fosse mantida. Se afrouxasse, qualquer faca vagabunda era capaz de superar as falhas da sua armadura, adentrar sua carne e arrancar seus órgãos fora. Fora justamente a rigidez que lhe permitira resistir àquela kerambit traiçoeira e inesperada. Permitira-lhe, ainda, retirá-la com as próprias mãos sem que muito sangue fosse perdido. Talvez ela até tivesse ficado desnorteada por 1,57 hora - tempo hábil para que pudesse se recompor. Agora estava tudo bem.
A vida tem de ser mais estável. Samantha aprendera a não esperar nada de ninguém, e gostaria que ninguém esperasse nada dela também. Não é pessimismo, é autopreservação. Dar a cara a bater dói, e ela não queria passar por tudo aquilo de novo. Não tão cedo. E isso até era compreensível, fossem quais fossem as circunstâncias que induzissem sua fé a tal crença. Mas não é sempre que um tapa acerta quando alguém dá a cara a bater.

Samantha, enquanto você for você, esse serzinho sorridente, dos olhos brilhantes e compactado em um metro e meio de fofura, sempre vai haver alguém de coração mole baixando a guarda pra deixar você entrar.