19.4.10

Maria Gasolina

Se você sempre foi assim eu já não posso afirmar, mas hoje você é uma piraninha.

A meio-lésbica do colégio de irmãos pregadores; o alvo das fofocas espinhosas de duzentos e poucos alunos da sétima série, sua série, por causa de pequenas intrigas românticas, hoje sai com velhos de pau pequeno e garagem grande, achando que é muito melhor. Não é amor, nem é paixão, não adianta tentar me enganar. O padrão a ser seguido é sempre o mesmo: a réplica repousa sobre a mesa do escritório, enquanto o verdadeiro espera na garagem. Idade elevada, às vezes é diferente, mas é sempre a mesma: a da crise. E você, Maria, com seus vinte e dois, se estica no banco de couro branco do co-piloto, joga a cabeça pra fora da janela e luta contra o vento. E os cabelos ali, do lado de fora, se agitam com rebeldia; e o vento à sua orelha não te deixa ouvir nada além de vento, grazadeus. E você não ousa botar a cabeça pra dentro, porque sabe que aquele velho só quer mesmo é te comer, mas até a hora chegar ele tenta jogar pra cima de você aquela conversa de rapazão que o tempo não ostracionou e que você já não aguenta mais, enquanto, você sabe, ele espera o viagra fazer efeito e finge procurar um motel que só vai encontrar assim que a barraca armar.
Se vale a pena? Vale a pena, se sua alma for pequena. Mas a gente sabe que você não é dessas, Maria, e disfarçar o bizarro se escondendo atrás do bizarro não faz de você uma melhor. Vai lá, volta pras suas menininhas e vai se divertir. Talvez uma delas até tenha dinheiro, e aí, olha só que legal a vida foi com você, dá até pra fazer sexo sóbria e de olhos abertos. E foda-se sua família, ninguém gostava dos seus coroas complexados.