14.5.10

Ensaio

Ah, ela era tão bonita. Ah, como ele queria chamá-la pra sair. Passou o dia pensando no que dizer, ensaiando, fantasiando o momento. Lembrou-se do que um amigo dissera, que sempre que queria dizer algo e não sabia bem como fazê-lo, escrevia antes, pra não esquecer ou se enrolar. Pegou uma folha de papel, escreveu, escreveu, escreveu. Amassou e atirou no lixo. Pegou outra, escreveu frente e verso, desistiu de novo. Algumas tentativas depois, quando já não havia mais folhas brancas, arrancou um pedaço de papel do caderno, rabiscou e enfiou no bolso.
Chegou no colégio adiantado, olhou prum lado, olhou pro outro, nada dela. Acendeu um cigarro, tragou, se engasgou com a fumaça, não sabia tragar. Uma mão tocou seu ombro, ele virou e lá estava ela. Gaguejou, tremeu na base, tocou o papel no bolso, desistiu. Se viu fazendo papel de bobo até a hora em que ela perguntou o que ele iria fazer amanhã depois da aula. Nada. Vamos fazer alguma coisa? Claro. Nos vemos na saída.

No bolso, o papel: "Como foi o seu dia?". Talvez ela gostasse dele, mesmo idiota.