25.5.10

Sem querer

Chamou a menina de canto e pagou-lhe uma bebida, sem ofender. Levou-a pra casa, sem ofender. Rasgou seu vestido em dois, sem ofender. Jogou-a na mesa, sem ofender. Meteu bem dentro dela, sem ofender. E ficou ali, suando naquele vai-e-vem, olhando pra luminária, vai, pro prato sobre a mesa, vem, praquela cara de sofrimento, vai, pro retrato no criado-mudo, vem, (agradeceu a ele por ser mudo,) vai, pro prato que se espatifava ao chão, vem, pra gota de suor que escorria daquela nuca loura, vai, praquele pescoço molhado, vai, praqueles olhos que lhe encaravam, vem. Parou. Se afastou. O alívio naqueles olhos verdes o repeliu, como se o jogo acabasse. Se sentiu mal. Olhou pro vestido arregaçado, depois pro anular. Tentou disfarçar o embaraço.
Pegou uma camisa justa no armário, uma samba-canção e deu dinheiro pro táxi. Por favor, vá. E não tente lembrar onde eu moro. Sem ofensas.