23.5.10

Flávia

Acordou se sentindo meio upset aquele dia. Chateadinha, angustiada. (Mas upset caía melhor.) Não pelo fim, sim pelos meios que levaram a ele. Uma semi-briga de palavras escritas e com ampla margem para infelizes interpretações - de ambos os lados.
Ela própria havia incitado o fim, a outra só o perpetuara, com suas não mais do que cinco palavras. Flávia, beleza. Fico por aqui. Não conseguia entendê-las como sendo outra coisa que não ódio ou rancor, e isso certamente não era o que havia previsto. O ser humano é um bicho, que reage das formas mais inesperadas quando se sente ameaçado. E ela própria não escapava dessa observação.
Nada mais efêmero do que um caso de três encontros e um fim de cinco palavras. Poético.
Sentia coisas que não entendendia, nem sabia se podia. Tudo acaba. Era uma vez ninguém que sonhava ser alguém, atravessou a rua e morreu. Todos nós fedemos debaixo da terra, no fim. A gente nunca sabe quando, mas as coisas sempre acabam. Só que esse fim de cinema, esse fim surreal, esse fim lacônico lhe angustiava de uma forma indizível. E então ela se sentou no meio-fio e começou a escrever. Pra tentar entender. Pra tingir o papel de remorso. Essencialmente pra passar o tempo, já que chegara no ponto de encontro meia hora antes do combinado com sua carona, e não possuía muito mais do que uma coca-cola, uma caneta e uma caderneta amarela.