10.5.10

Tudo pode dar certo

E ela vem. Empina a bunda e encosta o peito no balcão. O barman vê e faz que não vê, pega a caneta e faz que risca, se arrisca, mas não risca na comanda. O primeiro mojito é na faixa, o segundo nem tanto, o terceiro só se você for pra casa. A noite é uma criança, velha e drogada. Às vezes, a vida anda tão ingrata que só o que a gente quer é fazer as coisas sem pensar em nada. Então ela foi. E trepou sem camisinha, e foi bom, e era só o que importava. (Na hora.)
Na semana seguinte, poucas horas depois de regressar à Porto Alegre, sua boca soltava palavras de amor e suas mãos tremiam de ansiedade. No mês seguinte, a menstruação não desceu, nem no outro, nem no outro, e só desceria quando mandasse a cartilha do corpo humano.
Em São Paulo, atendeu o telefone um tal de Felipe, que sentou numa cadeira inexistente e passou o mês seguinte, e o outro, e o outro sentando de lado por causa do cóccix arrebentado, até quando mandasse a cartilha do corpo humano. Engoliu seco, ficou prostrado do outro lado da linha. Como convencer uma menina de que o filho que ela carrega no ventre não é seu, quando ela é lésbica e você foi o único pau amigo dos últimos cinco anos? Fim da linha.
Na vida, às vezes, pequenas ações podem mudar o curso de tudo. Se o cartão de crédito não tivesse travado, três, ao invés de duas caixas de camisinha estariam estocadas na cabeceira de Felipe. Mas ele teve que pagar em dinheiro, e achou que um tubo de pasta de dente seria mais importante do que aquela terceira caixa, e o mundo teria menos um Prado. Mas ele pediu duas.
Toca o telefone de novo. Felipe, não desliga até eu terminar de falar. 42 minutos depois, ele desabou no sofá, suspirou, segurou o rosto com as mãos, enfiou a cara na almofada. A 800 km dali, um casal se reconciliava e agradecia ao acaso por isso.
Marina, aquela da balada, pegara o primeiro voo pra São Paulo e caíra no seu balcão, após desabafar para a namorada não queria gestar filho algum. Sendo sua namorada infértil, desencadeou-se uma batalha homérica em torno da barriga de quem faria o quê, e coube aos deuses gregos plantar, naquela noite maluca, a semente que viria a resolver a discórdia.

... E Felipe Barreto nunca tivera tanta sorte na vida.