18.5.10

Não confundir choro com esporro

No espelho, aquela mesma olheira de uns tempos atrás me encara. Qualé, porra, eu queria saber, mas minha inexpressividade só me olha de volta com a mesma cara de sempre, e eu fico assim, não me dizendo nada o dia inteiro. Nada faço o dia inteiro, e nada continuo fazendo o resto da semana. Peguei o ônibus errado, esperei o ônibus certo no ponto errado, demorei uma hora a mais do que o normal pra chegar na faculdade, cheguei uma hora antes da aula começar e não entrei pra ficar conversando do lado de fora. Quanta determinação pra fazer um socialzinho.
No espelho, aquela mesma cara de mesmice me encara, mas, lá no fundo dos olhos, ela desesperadamente quer querer fazer alguma coisa dessas que dizem que dá futuro na vida, - estudar, trabalhar, etc. - mas ela não quer fazer porra nenhuma. Ela não consegue nada. Ela não consegue nem chorar. A última vez que lágrimas invadiram seu rosto, ou o meu, foi num casamento, e foi ridículo e chichê. A penúltima, foi quando torceu o pé, quase três semanas atrás. Não sendo uma dor física ou patética, ela nem sabia mais o que era chorar. Sentimento, o que é isso? Como funciona? O choro ficara entalado numa escadaria qualquer, três semanas atrás, pra nunca mais sair.

Ajuda. Alguém me ajuda? Eu não sei como. Só... ajuda. Compaixão, talvez. Não quero que me endireitem, que me peguem na mão pra estudar, que me ponham pra trabalhar. Só queria nunca mais me sentir assim na vida, muito menos com essa frequência. Eu acordo melhor, sempre melhor, e aí ninguém percebe nunca. Mas tem umas noites que, putaqueopariu, escondam os objetos cortantes da casa e me ponham pra dormir.