3.5.10

No dia em que eu sair de casa sem roupa

Senhoras me olharão com pavor, senhores me olharão com fervor,quarentões tentarão me atacar. Meninas morrerão de pudor, garotos também. Os jornais noticiarão e todos comentarão. Os conservadores acharão um absurdo; os liberais virão em apoio, em bando. Sairei de tênis nos pés e lápis nos olhos, para que a polícia saiba que eu não sou indigente. Todos os próximos ficarão sabendo, mas ninguém terá coragem de perguntar à menina que saiu vagando pela rua nua em pêlo por que ela saiu nua em pelo. Um absurdo, um absurdo. Prendam-na! Não, não prendam. Alguém cubra essa menina, pelo amor de deus, ela vai pegar um resfriado. Tudo bem, dizem por aí que um espirro equivale a um trinta e seis avos de prazer de um orgasmo... Que mal há de fazer uma brisa outonal? Minha filha, você perdeu o juízo, perguntará a senhorinha da loja de penhores. Não, minha senhora, vocês é que perderam. Eu só saí de casa do mesmo jeito que vim ao mundo, e vocês agem como se nunca tivessem visto nada igual.